quinta-feira, 29 de abril de 2010

Refluxo

Fluidos sexuais penetrando
Ruídos primitivos só zunindo
Motores estão esfriando
As abelhas da colmeia estão saindo
As personalidades se despersonificando
Os personalistas se despersonalizando
E ficando iguais como os dias ficaram
Depois que as explosões do sol esfriaram

Refluxo da Vida
Refluxo da Morte

As ondas do mar para dentro
O corpo que quer um veneno
O feto que quer nascer feto
O Burro que sonha em ser coruja
O padre agora quer ser filho da puta
Os demônios querem voltar para o céu
Os hippies cismaram com a armada luta
E os punks querem evitar o escarcéu

Refluxo da Vida
Refluxo da Morte.
"Dia Chuvoso"

Rostos estranhos
Vidas mortas
Portas abertas
Porém fechadas mesmas portas
Blusas de couro de cobra
E guarda-chuvas de sobra
Frio na pele e no olhar
Nas pernas e no caminhar
Olhares olhando o nada
Dentro do tudo das lembranças
Dos pés à cabeça encharcada
De chuva e dança de crianças
Favela alagada
Favela de sonhos
No meio do escombro
Uma rosa intacta
Esquinas erradas e a certa
É sempre na próxima esquina
De mini-saia a menina
O frio esquenta suas pernas?
Horizonte de prédios enevoados
Névoa de horizontes prediais
Sensações de frios infantis
Que sempre voltam nunca mais
Arrepio de uma brisa gélida, cortante
De um dia de sol.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A lâmpada é um mosquito

O futuro está no cigarro
Sonhos em pensamentos tumultuados
Vai ser sempre assim, claro:
O ontem vai estar sempre ao seu lado
E teremos saudades de hoje.
E isso já foi dito ontem, e eu lembro
Hoje e lembrarei amanhã...
Hoje, ontem, amanhã
Ontem, amanhã, hoje
Onamatem nhãhoaje.
Olhei pra lâmpada um milhão de vezes
Antes ela até se mexia
O silêncio tinha um gosto diferente
Mas não sou só eu, antes
Mais coisas aconteciam...
O futuro está no cigarro
Não o queime apenas
Não transforme esse cigarro
Em um câncer estúpido e só
Eu vi o sol hoje e ele nunca me pareceu
Tão vazio
E sei que nele há segredos tão singulares
De deixar a vida por um fio
Como é a eternidade uma lâmpada
Para um mosquito.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Show dias 21 e 29 de abril


Foto e arte: Milla de Paula

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Síntese do epitáfio da gênese

Veja meu rosto pálido
E meu pênis ereto
Sexo, drogas e destruição
Meu moral flácido
E minha moral reta
Mais um milênio pelo chão
Mas mesmo no claustro
Eu encontro um ombro amigo
Fogo na pele mas não no coração
Da desilusão segui o rastro
E outros desgraçados vieram comigo
Parece genética essa propensão
Ou são sintomas apensas do mundo
Em estelar regressão?
Eu olhei pro lado quando olhei pro espelho
E não adiantou pois você foi o meu reflexo
Minha razão foi de encontro ao instinto
E lendo o Kama Sutra baseei o meu sexo
Como se Dionísio trepasse com Apolo
Sonhos despertassem inférteis solos
Os Smiths tocassem infindáveis solos...
Sigo o instinto pensando demais
Como nós (nós) animais racionais
Deuses-animais, homens infernais
Faço isso rondando o equilíbrio
Como um cachorro atrás do próprio rabo
Como um pai que é neto e filho
E como um grande Poeta que não é
Um livro nunca acabo...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Tempo dentro dum relicário

Tempo-ácido.
A cada hora que passa
Mais o tempo passa e um pouquinho
Do espelho racha.
Imagem flácida (como as margens plácidas.
Onde está Plácido Domingos?
É que eu só saio aos Sábados...)
O pau já não sobe
A boceta já não molha
Coração já não dispara por medo da morte
O tempo te me feito sofrer
O tempo tem me feito perder tempo
Bateu um desespero! A fada madrinha
Está derretendo vida afora
Vida fora daqui. A vida faz é sumir
E a encontro apenas em relicários.
Túmulo-relicário...
Todos me acham meio tapado
E eu realmente queria ser tapado
Como eles para não sofrer tanto
Mas ignorância não é benção e isso
Está tatuado em minha alma.
Boa noite.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

!

Em longínquas eras
Outros ouvidos doeram
Outras almas sofreram
Em noturnas querelas
Com o espelho

Tentando achar palavras
E só achando o silêncio
Depois da peleja travada
Com o fulgurante pensamento
Que não explode

Os cães lá fora latem
No relógio os segundos batem
E eu nessa agonia augustiana
De expressar algo que me assanha
Causa cãibra cerebral

É uma mortalha de mil panos
Dentro minha alma chora mil prantos
Triste não exatamente por tristeza
Mas por não conseguir com destreza
Dizer o que se quer

Não há profundidade suficiente
Na caneta pra descrever o abismo
Abissal latente na pele demente
(e essa frase ainda soa eufemismo)

Quase consegui
Boceta da desgraça
Cabeça de pau
Cabeça doendo
E amanhã como sempre
De novo tento... De
Novo