quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Improvisos de forjaduras eternas

Quero esquecer o tempo
Essa inútil desculpa que arrastamos como grilhões invisíveis
O peso deles é da razão das nossas falsas culpas
Pesados demais, como idéias que subjugam o corpo
E são apenas idéias.
E quando olhei seus olhos na virulência dessa doença linda chamada Paixão
Quis explodir de amor e tu serias a chama do pavio
Hoje observo o frio que nos conserva, que nos faz querer esquentarmos-nos
Um ao outro, mas a centelha não morre... ela pulsa, e pulsa, e o pulso
Trai nosso desejo de trairmos a nós mesmos, e isso é lindo
Sujo, indecente, víbora, anticristo, vital
Porque é a essência brotando, é a água mais pura que podemos beber...
Não me venham com suas rezas e autoflagelações em nome do outro
Não se desperdicem oferecendo-se a Ele.
Ele um dia me beijou, gostoso...
Foi uma brisa no meio da cidade-caos e com suas mãos afáveis
Ao mesmo tempo que severas, sussurou como dez mil bombas atômicas:
SEJA VOCÊ POIS O FIM DO CAMINHO NÃO TEM CURVA.
Quando ele morreu eu nem me lembro o que senti,
Está bloqueado em nome da dor
O pior foi enxergar a morte dele nela,
Tão aterradora a fragilidade nos olhos em direção à janela...
E eu tentei, dei meu ar e daria minhas vísceras
Como dei as da minha alma sem sentir nem pensar.
E como ir com o fluxo, entre empurros e sangue aos borbotões,
Vendo a mentira em olhos tão sinceros
A venerarem uma estátua que arde por dentro e por fora
Sopra palavras tão bonitas quanto bolhas de sabão
Circulares, setecores, infantis,
INSUSTENTÁVEIS?
E faço sexo com meu cérebro
Abro a cavidade e enfio toda a vontade de ser e ele se molha todo
E enrijece e palavras mais palavras mais palavras
E o gozo é o Ato. Ato, atitude no fim da perfeita Poesia
Aquela na qual pernas que puxam pâncreas que puxam poses
Que puxam pênis gozando em vulvas
Vivas na alma, calor na Pele, sentindo a morte brotar da vida num ciclo louco
Loucura viva, viva a loucura, loucura, viva!...
A loucura quer ficar comigo, mas tenho medo
Que eu acabe por querer ficar com ela
E ela me diz que já mora aqui
"Você tá louco, cara?" ela me diz...
Aqueles olhos grandes que querem me fazer espasmático
Que sabem que toda felicidade é asmática
E querem que os espasmos venham da asma
Ai, que loucura... ela é a mistura de todas as mulheres que amei
E de todos os homens que amei
E de toda ira que Deus me fez sentir pra depois se tornar um mar de pétalas de rosas...
Ela que me faz querer compor a música perfeita, pra quando a compor
Morrer com a inútil certeza de que a próxima era a eternidade
Ela rima mar que emana a vila
Eu sou o formão que esculpe o meu destino
Quem sabe um dia eu o manuseie
E no meu coração eu forje o amor
E tomara que ele no fim faça sentido
E peço por saber que faz.