...quando cheguei minhas palavras fediam
a desesperança
a minas de carvão com trabalhadores mortos
a minas cor-carvão do centro da cidade
multicolores
e a dança dos estupros pagos.
as noites são tão solitárias pois todos são vultos
pois assim querem
se tornar a noite já que o dia
não os deixou serem dia
e a noite é permissiva
a noite, quem diria,
é apenas uma extensão dos nossos desejos
(escolham bem seus desejos)...
eu, tão doido e bêbado,
quis fumar o teu cigarro,
quis beber da tua bebida,
quis usar da tua droga,
quis lamber o teu clitóris,
quis meter a minha pica,
quis alimentar seus olhos
e quis ser você pra não mais ser eu
ou te acoplar em mim pelas lembranças pra tentar me tornar
algo melhor: alguém.
mas meus olhos irritados pela fumaça
querem ser fumaça irritada
querem evaporar e não suscitar poesias na alma dos outros
parecem querer esconder o ouro atrás de si
mas esse ouro só reluz quando compartilhado
as lembranças não trazem ninguém pro lado
a cachaça que me faz amigo de todos
os vultos com os quais divido meu coração
que vira arrotos de palavras balbuciadas
que (quase) nunca me lembro...
ando mais uma vez sem rumo pra casa
as luzes fracas dos postes retratam meu coração
meu coração quer ser asfalto:
antes pisado
que abandonado.
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