terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Deuses

Às vezes, quando penso,
Me sinto num cubículo sem teto,
Onde só vejo o céu.
É um aprisionamento tão livre
É uma imensidão tão enevoada
Essa do pensamento...
É que eu tenho tudo articulado
Eu sinto a prática no estômago excitado
Pelos planos
Frio na barriga imita o movimento dos pés,
Sinto a revolução nesse frio, dentro do estômago marés...
Às vezes penso muito pra não fazer nada,
Essa é a verdade.
Mas nos momentos da sinergia entre pensamento e ação
Quando o amor se revela em pele e gemidos
Quando o suor denota alma igual a coração
Quando a ideia pura vira ato destemido
É quando nós nos tornamos
Deuses.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sombra do nada

Não há relevo que demarque o medo que sinto
Ando pelas reentrâncias da minha consciência e vejo
Névoa.
É um vazio que preenche a vida num parasitismo inócuo
Que só denota sofrimento...
Aprendo o que a morte desensina
Sofro no que depois a perversão anima
Depois do gozo a solidão
Depois do vôo desesperado o chão
Névoa, e nem é úmida,
É sêca, dela nada nasce
Nem um alarde
Nem um implorar por vida.
Naquele momento da noite me senti tão vivo
Acho que por não me lembrar tão bem do momento
Mas acho que sim, me senti águia
Sendo apenas presa bêbada
Se sentindo águia...
Ao meio-dia durmo
Ao meio-dia como
Ao meio-dia amo
Ao meio-dia morro
Tudo num meio-dia insuportável
Na metade descaradamente exata
Irritantemente exata
Do nada.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Reza aos deuses mortos

Bateu seu gosto na minha boca hoje à tarde
Seu rosto invadiu minha retina
Sem porquê, batida de carro sem alarde
Tal qual morte no jardim ermo da esquina

Gôsto de sangue na mordida ávida
Na saudade que as lembranças tentam aplacar
Como o verde na brisa de uma paisagem pálida
Como aquele gosto no gozo que não mais há

Mas eu o sinto,
Quase jorra na minha língua
No seu colo
Nas cicatrizes que eu sangro
Na fartura depois míngua
Na tortura que mitiga
Me toco, arfante puro
Puro-sangue dos desejos
Pernas, glande, porra, seios
Depois rezo aos deuses mortos
Pra no meio dos destroços
Te achar ali no meio.