terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Manifesto do Caralho na Terra da Puta que Pariu

Saiamos de nossas casas. Não é nossa casa. Nossa casa é nossa cabeça, parede-ossos. Janela-olhos. TV-pele. Não é a Dilma. Não é o Bolsonaro. Não é o marxismo de direita pós-hippie conservador homossexual temperado com dendê franco-dominicano... não é isso.
Quando vamos nos cansar de vermos os outros sob um prisma de espelho pervertido? Discussões sempre haverão, e que bom. Não é a perfeição que importa. Mas sim a busca de um carinho pela sua procura, apesar de termos que olhar nos olhos da outra pessoa com a humildade de querermos nos encontrar neles.
Eu simplesmente acho que a ditadura não eleva nenhuma sociedade pois não há uma auto-conscientização (aliás que redundância: ninguém conscientiza ninguém, só mostra o caminho no máximo. Trilhar depende de cada um.). Quem concorda com uma ditadura é encabrestado, e quem diz o contrário é um jumento em dobro, pois é um jumento hipócrita (e coitado dos jumentos...). E foda-se se é ditadura de direita ou de esquerda, não importa. A evolução só está na liberdade. Mas liberdade não existe sem informação livre. A ditadura não esta nos exércitos, tudo existe primeiro no campo das ideias, e por isso em qualquer ditadura a informação controlada é a maior arma. E o pior algoz.
Chamem isso de romantismo, cristianismo, anarquismo, vontade de dar a bunda, teorizem com algum conceito que alguém ouviu dizer por aí. Ou sejam cínicos: o cinismo realmente é a melhor forma de ser impotente mas com uma máscara interna de orgulho hipócrita. Mas a verdade é que se não nos dispusermos a olhar os nossos semelhantes sem amarras, sem preconceitos, sem esse medo plantado pelos jornais e pela luta de classes estúpida capitalista-comunista-ista-ista-ista, sinceramente a barbárie só vai se consumar mais e mais até vivermos numa sociedade onde eu mato sua mãe pra que sua raça não se prolifere. E qual é minha raça mesmo?
O caminho é a arte, a sensibilização. E se quem reclamasse dos marginais fosse num presídio fazer algo de bom, ensinar algo, que tal? E se na empresa que trabalhamos fizermos um clube de leitura? “Não, porra de clube de leitura! Quero é cachaça e arranjar alguém pra meter (ou pra dar)...”. Estamos todos no mesmo saco. Fudeu. Só que o simplismo da dicotomia é a melhor arma pra gente burra. Por que será que Hitler elegeu os judeus como arqui-inimigos? É mais fácil pra um povo sem autoestima e em recessão ter um alvo e pronto. Pra que maiores explicações? É mais fácil a classe alta poderosa usar a classe média vaselina pra atingir a classe baixa idiotizada: seu alvo. “E eu lá vou pensar no marginal? Antes que ele pule o muro da minha casa eu controlo o Estado e a polícia pra ele nem ter a chance. EU conquistei isso. EU trabalhei”. Aí o marginal diz: ”E eu lá vou pensar naquele ricaço? Foda-se, entro na casa dele, roubo tudo dele e ainda faço o regaço na família dele. EU que não tenho o que comer. EU que não tive oportunidade”. E o ricaço não tem empregados na sua empresa não? E o marginal não teve nenhuma chance? É a luta de classes. E qual é a minha raça mesmo?
Minha raça é a classe média branca tão reacionária quanto a alta e tão fudida quanto a baixa. But not so much... são as discussões totalmente parciais sobre as manifestações: tem gente que só se importa com o congestionamento que elas causam: “porra, eu trabalho e vem esses vagabundos me atrapalharem. Tem que prender!!!”. Mas quando assistem os casos de corrupção na TV esbravejam: “corruptos filhos da puta!!!”. Ou será que ainda esbravejam? Afinal a rotina de trabalho pode ser a pior das drogas, ainda mais numa sociedade que quanto mais sofrimento o trabalho causa, mais digno é o trabalhador... ecos de uma educação católica que preconiza o sofrimento como forma de purificação.
Vamos escutar música. Ir a shows. Ir ao teatro. Ler livros. E nos reconhecermos neles. E falar sobre isso com alguém no ônibus. Ou vamos bater nossa punheta ou siririca no computador, trabalhar em casa por computador, conversar via Skype com um armênio enquanto nossa mãe morre no quarto ao lado.
Cada um com sua escolha. Eu fiz a minha.

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