quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Sócrates na Cagada

Porque na maioria das vezes dá merda.

Hoje eu fui fazer uns exames pra saber os reais estragos que a vida desregrada de um bêbo réi causa na carcaça: cachaças baratas, Cantinas da Serra, 88, Derby, e um coração ferido por milímetro cúbico de sangue. Normal. O Brasil de verdade tá daí pra baixo. O povo é foda. Pro bem e pro mal.

De jejum peguei o ônibus, pra fazer um exame pro qual tinha que ficar de jejum e beber muita água. Fiquei de jejum mas esqueci de beber água. Na semana passada, aniversário do sobrinho, delícias e doces de criança, me empanturrei. Já aproveitei pra dar aquela desintoxicada básica. Desintoxiquei do açúcar, mas me reintoxiquei de dia-a-dia: tinha perdido o prazo de um dos exames, o qual não pude fazer por simples burocracia. Fiquei puto mas o erro foi meu. A atendente tava de mal humor, mas imaginei: se eu e ela estivéssemos num hospital público? Teríamos que engolir guela abaixo nossos maus humores no entorpecimento da realidade brutal. Bem, fiz um dos exames ainda.

Pra esse que consegui fazer, tinha esquecido de beber água, o que a enfermeira falou pra eu começar a imediatamente fazer. Borabora, Dez copos de água depois, a vontade de mijar não vinha (pra fazer o exame tinha que estar com a bexiga cheia). Depois dos dez copos, falei pra enfermeira:

-Meu bem, ainda não deu nada. Que faço? 

Ela, simpática com a besta quadrada aqui, falou:

-Querido, vá dar uma andada. Quando apertar, volta.

Fui andar na frente do hospital. Depois de uma garrafinha d´água começar aquela vontadezinha mequetrefe, me lembrei: "o que que eu tô fazendo? É cerveja, porra!!!! A resposta é CERVEJA!"

Bem, estava evitando beber após eventos desastrosos bêbado, e consegui uma desculpinha safada que aliviaria minha culpa pela auto-sabotagem. E seria uma Heineken. Porra, uma Heineken gelada ao meio-dia num calor infernal merece qualquer desculpa. Só uma poxa!

Tomei-a. Saboreei-a. Nunca um exame foi tão bom. Se tiver algo errado, pelo menos a desculpa perfeita no mundo foi inventada. Mas pensei: "e se der merda? Algum problema no exame?" Bem, ultrassonografias são por fora, pô. O álcool não vai influenciar tanto. Só uma poxa. Tomei a cerveja, fiz o exame, e falei "essa história é Rock. A galera vai adorar!" Saí pra almoçar andando. Mas veio o peido. Ah, o peido. Sabe AQUELE PEIDO? Pois é.

Caguei-me todo. No meio da rua. E agora, Deus dos cagados? O que acontecerá com minha alma, tão sublime, porém agora profanada pela bosta fétida? Era só uma desculpinha Deus... Foi só uma! Porque me castigastes dessa forma, fazendo-me andar pela cidade dessa forma, CAGADO? Pegar ônibus não dá, Uber não dá também. Um jatinho não dá. Acabou minha vida, minha masculinidade se esvaiu pelo meu cú. Não há dinheiro que apague um olhar de reprovação de alguém quando se está borrado. Esquece. Fim da Linha pra você meu velho. Não és mais homem, és um rato. E cagado ainda por cima.

Fui andando pra casa. E puto, resolvi tomar mais uma num bar, cagado mesmo, foda-se. Liguei prum brother, chamado Clodoaldo, apelido Clô. Não atendeu. Sentei no bar, pedi uma, com medo do dono sentir o budum e me expulsar de lá. 

-Ô, meu chefe, traz uma cerva por gentileza. Meu dia tá uma merda. Preciso relaxar.

-É pra já Irmão! Mas é adiantado, porque cê tá cagado. 

-Pouurra, é minha bermuda que tá marcada, é? É o cheiro? Como você percebeu?

-Não irmão, é que cê tá com cara de merda mesmo. Melhora ela aí. Você encontrou o Paraíso, acabei de pôr papel no banheiro. Não cague na mesa, temos banheiro. 

-Valeu, meu velho. Você é meu segundo pai, cara. 

-Nem tanto, cagão, nem tanto. Mas já fiz tanta merda na vida que eu te entendo. De boa. Só melhora essa cara porque pior que um cagado é alguém com cara de merda.

Caralho, encontrei Sócrates e ele é um dono de bar agora. E na cagada, nunca bebi aqui. Que felicidade. 

Parei e pensei: "ora, eu já nasci todo fudido. Cheio de placenta, sangue, eu vim da porra, porra. Dentro do útero nem oportunidade de fazer merda eu tinha, em todos os sentidos. Ah, vai morrer por tá cagado, ô seu merda? MERDA NÃO! Só um pouquinho na cueca, nem vazou." Bem, mas ir de ônibus seria um desrespeito, já que poderia, sem querer, pelo desconforto de inadequação querendo sentar-me logo, pousar-me ao lado de uma distinta senhora, que, tendo um olfato normal, poderia atentar-se ao fato do flato mal performado (ou muito bem performado, afinal se o peido é o anúncio da bosta, foi um peido super econômico, afinal foi tudo numa tacada só... Tacada não, peidada). 

Cheguei em casa, pensando em todas as merdas que fiz na vida. Até certo momento da caminhada foi super engraçado, até o instante que começou a assar aquela merda nas pernas da consciência... 

Mas estou vivo. A vida dá merda sim, muitas vezes, sempre vai dar. E pra isso só há uma coisa a se fazer: tome banho quando chegar em casa. E agradeça pelos Sócrates de merda que você encontra pelo caminho. São anjos travestidos de dia-a-dia. E cuidado com a Heineken num dia de sol, que pode dar merda MESMO. 


                   

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Linda Hipocrisia

 Eu hoje amassei um papel escrito Eu amo Você

Com todo Amor do mundo

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Bend-Rapadura

Cê quer coisa fácil vá comer um Big Mac

A vida é rapadura: doce mas não é mole não

Mas quando é doce, ela dura uma doçura que dança na língua

A doçura te lambe como o vento da tempestade

De um samba de Amor

De um Rock espasmódico do qual o Amor sangra

De um bend fudido, lento e lindo

Bend-Rapadura

Mas se queres um Big Mac tá tudo bem também

Amém

O bom da vida é a delícia do Bem

Do gosto do fel e do mel sempre brota

Pela janela escancarada ou pelo vão da porta

O Amor que na essência se é e se tem  

sábado, 26 de setembro de 2020

Desap(ego)

Nem com você

Nem sem você:

POR VOCÊ.

Você não me faz falta

A sua ausência me faz

Não mais ausência

Já esqueci a reticência

Já esqueci até a demência

Pra poder aproveitá-la mais

Do que a sua ausência ausente

Até a ausência fugiu da ausência

Tem ideia do que você me fez 

Não sentir?

Sem tirar nem pôr

Nem tirar você

Nem pôr você:

POR VOCÊ.


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Flor do Amor do Acaso

Não pise numa Flor no chão.

Não que ela esteja triste implorando pela sua atenção...

Não! Mas que menino prepotente...

Quem se acostuma a brincar com flores imaginárias

Só compõe árias cantantes para personagens de complexidade maior que o bel canto,

Como esse verso tão ressonante

E demente.

Não! A Flor Linda está bem

Só que ela quer ficar melhor

Florindo o caminho de alguém...

Então não A pise

Magoado pela Beleza ter te questionado

Sobre o rumo do seu caminhar tão compenetrado

Quanto inútil:

Pare

Observe-a

Suspire pelo encontro inesperadamente esperado

Agache-se

Deite-se

Dê-lhe palavras potentes e sutis

Beije aquela RosaVioletaCrisântemoOrquídeaCravo

Dê-lhe o mais Lindo Adeus

Aquele ateu pela iminente/eminente Saudade da Deusa-Flor

(Ou você acha que o caminho dos Perdidos de Amor é só seu, 

ÓÓÓÓÓ jovem mancebo...)

Sabe, ela já foi pisada

Desnorteada como você

E te ama por não tê-la posto num vaso:

O verdadeiro Amor

É maravilhar-se com a linda Ilusão

De que uma Fantástica Flor um dia

Mudou nosso inútil rastro

E enlouquecendo de Amor

Nos juntamos àquela Flor

E nos tornamos

Essa linda Flor do Amor do Acaso.


terça-feira, 15 de setembro de 2020

Deus Saudoso

Tão saudável mas saudoso

Estou sagrado mas insosso

Osso implorando por cão

Tudo implorando por tão


Ouro bolorado, Arco

Do triunfo decadente

Carne implorando por dente

Ditador virando anarco


Verdadeira Perfeição

É o ciclo do Deus Eterno

Com uma arma na mão


Suicidou e foi pro inferno

Agora tudo completo

Qual a próxima estação?


quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Livre o livro lascivo do Infinito

 Livre-se

Que o livro da Vida

Paira no ar

Pendular sem lar

Num Sol em Lá

Em tons de olhos

Retângulos lascivos no fim do Infinito

Leia as palavras que emanam dessas bombas

Tão alvas, tão vazias.

Que seu Coração, em pêndulo estelar

Pairando no seu Livre Mar

Desague 

Do seu íntimo Mar

A palavra perfeita:

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Pronto, falei (Isso é saudade)

Eu juro

Do âmago

Do íntimo

Que me arrependo

Por não ter deixado ela me comer.

Nem uma lambidinha...

Paciência.