quarta-feira, 16 de maio de 2012

Festa na Alma

Vai ser uma coisa linda, tenha certeza disso.
O sol vai nos lamber como nunca antes,
As crianças voltarão da guerra
Entoando gritos de amor
E nós choraremos de alegria
Braços abertos
E o vento a estripuliar o coração...
Essa nuvem tétrica e horrível está indo embora
E na verdade nem importa mais
Já nem me lembro do barco:
Eu quero é o cais.
Vou a nado
Sangue a pino
E tão calmo
Tão menino
Mas tão Deus...
Eu nunca precisei tanto de um abraço quanto hoje
E os encontrei (foi mais de um)
Tive o colo da minha irmã
E o honrarei.
Tenho me posto em apuros pra me reconhecer
Tenho soltado os cachorros em cima de mim
Tenho estado à mercê de mim mesmo, à mercê
Estando a crescer só pra chegar ao fim.
Não mais. Não assim.
Vai ser uma coisa linda, tenha certeza disso
E não pra sempre
Mas quando vier
Explosõesdealegriaportodososporossanguelindofervilhandovidafestanaalmafestanaalmafestanaalmafestanaalmafestanaalmafestanaalma...

Chaves e cadeados

Vida: morrer e ressuscitar a cada momento
Apenas pra sentir o perigo mortal rente
E na morte descobrir que a vida, dormente,
Não vale nada só com o marasmo do vento

Que o vento se transforme em tempestade!
Que a coragem signifique liberdade!
O medo se torne prudente e não covarde!

Amor, semente doente intensamente ausente;
Serpente mente. Dormente quente, porém friamente.
Sua beleza se contrasta com seu veneno mortal
E nos dividimos, perdendo a noção do bem e do mal

E no prazer do gozo, a dor se torna pior.
Nas milhões de loucuras, a realidade só.
Nessa melancolia, de mim mesmo sinto dó.

E o frio me faz sentir que você não está aqui
E que o meu esforço gigante me fez pequeno sentir
E que as orquídeas, tão raras, desapareceram enfim
E que você foi embora e eu me senti sem mim.

Dor, me faca crer no seu inevitável suicídio;
Rancor, desapareça e não deixe o menor vestígio;
Amor, me diga o que fazer para não ser mais vencido.


Valéria Dusaki

O Sorriso da Puela

O sol volta a brilhar de novo
O anúncio da morte do corvo
A já preparada cova
Da tristeza e da corja
De pensamentos auto destrutivos
Pois quero permanecer vivo
Pra vê-lo outra vez
Acariciar a tez
Do céu no qual ele nasce:
A morena e macia face
Na qual a sinceridade
É virtude e necessidade
Ando entristecido e ansioso
Mas quando o vejo em seu rosto
Não há mais nada
Além da alegria nata
Meu porto seguro após
Violência-tempestade atroz
Seu sorriso ilumina o mundo:
Pelo menos o meu.


Valéria Dusaki

terça-feira, 15 de maio de 2012

Sente-se

Meu sangue se tornou
Uma ilha, na qual me isolo.
Grandes distâncias percorro
Cantos de amor rebelde entôo
Sentado aqui.
Há silêncio em meio ao caos
Das pedras rolando do céu
Há idéias fervilhando mudanças
Uma linda face sob o roto véu
Sentado aqui.
Cemitérios verticais fazem escada
Física rumo ao firmamento
Com meus sonhos, perguntas e medos
Através dos olhos modelo o frio cimento
Sentado aqui.
Não é desperdício de tempo
Nem novo movimento: apenas estou
Sentado aqui...


Valéria Dusaki

terça-feira, 8 de maio de 2012

Interlúdio

Tudo vai melhorar
(Enquanto isso me arranho
E tremo de vontade de beber
E grito aterrorizantemente dentro de mim
Meus músculos se contorcem)
Tudo vai melhorar
(Afinal falta coragem pra corda
Além do mais a vontade de viver discorda
Apesar de num certo ponto
Olhar pra faca
Por mais tempo que de costume)
Tudo vai melhorar
(De repente teria sido melhor
Viver na mentira morna
Do que nessa verdade que me fode a alma
Arromba meus testículos
Desgraça minha força de vontade)
Tudo vai melhorar
(Enquanto você estupra meu espírito
E quando voltares pra felicidade
Eu, prostrado e rijo como um cão morto
Mas com a pseudo-alma dentro,
Agarrado aos temores que você chicoteou
Na minha mente-hematoma)
Tudo vai melhorar
Mas saí da caverna
E ao primeiro passo na luz
Quebrei as pernas,
As mãos, quando me esquentava ao sol
De um microsegundo perfeito...
Desaprendi a me sentir
Sinto-me ora nuvem intergaláctica
Ora bosta n´água
Divirta-se secretamente
(Até pra si mesma)
Com minha fórmula um
Pra lesma
Quer correr mais rápido que a luz
Mas é lesma
Parece que a loucura ronda
E não entra
E esse interlúdio é o pior... (tudo vai melhorar)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Renitente

Luz renitente e fraca
Analgésico pra terminais
Dor que não deixa marcas
Pois elas são espirituais
Langor num gozo abismal
Chuva fina e irritante
Ferida no dedo e sal
Quase chegas, porém mais adiante
Pois é dentro o que procuras
E procuras na sua estante
E tenta achar no meio das ruas
E sempre estará distante
Luz renitente e fraca
Analgésico pra terminais
Dor que não deixa marcas
Pois elas são espirituais.


Valéria Dusaki

Morte

Nasço. Caso-me com o tempo
E seduzido pelas possibilidades
Sorrio como criança.
Tempo, de mãos muito afáveis
E sorriso Monalisa,
Diz que o prazer está em tudo
(Mesmo tímido e mudo
Ele também conversou com Freud)
Em meio às descobertas, sinto
Fome. Tem uma maçã
Na cesta de frutas.
MORRO!!!!!!

Valéria Dusaki

"Teorema da Escatologia"

Eu sou só uma puta escrota
Com duas pernas varizentas
Com um grande e cicatrizado coração
Com duas crianças pra matar
E um homem pra deixar
Eu sou só uma puta escrota
Com duas pernas varizentas
Com um grande e sangrento coração
Com duas crianças pra matar porque sim
E um homem pra deixar, porque sim
Eu sou só uma puta escrota
Com duas pernas varizentas
Com um grande, grande coração
Com duas crianças pra matar por tanto amá-las
E um homem pra deixar por tanto odiá-lo


Valéria Dusaki

(Maravilhosa) Fúria

Quero essa fúria
Sentir o meu sangue pulsar outra vez
A porra do sangue na porra da tez
Sangue à flor da pele
Quase pra jorrar
Num esporro de vida
Permaneci sentinela por muito tempo
Refazendo remendos não mais possíveis
Destoando da essência dos poetas incríveis
Destemidos
Precariamente apaixonantes
Apenas apaixonantes
Cresço agora na medida do impossível
As paralelas por fim se cruzaram:
Eu em mim...
Eu em mim...
Eu em mim:
EU EM MIM!!!!!!

Oração

Estava eu
No Pistão Sul
Às seis da manhã
Pensei:
"Que todos esses ônibus
E carros
Pessoas
Estejam indo rumo
Aos mais perfeitos Amores
Das suas vidas."