sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Não é um haicai, mas eu tentei (para Janine Carvalho)

Às vezes me dá uma felicidade
Que me dá vontade de chorar
Mas não é porque eu sei
Que ela vai passar:
É só porque é muito bom mesmo.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Muro, poste, pessoa, solidão (Amor de amantes na cidade-desespero)

Preenchem os telhados dos prédios
Os cigarros da decepção
Assim como os cigarros dos amantes.
Sonhos que vem e vão nas fumaças mais fumaças mais fumaças
Pensamentos esfumaçados
Como os quartos não faxinados
Da mente
Meu coração se aperta todo como a criança que abandonei lá
Com seus choros por carinho e vida...
Me ame, me gaste nas suas pernas cansadas de tentar
Tentando correr sempre mais
Pra chegar logo a nenhum lugar
Meus olhos te perseguem na névoa noturna de um dia ensolarado
E na espera angustiante da sua ida
Os cigarros se acumulam
Os da decepção
E os nossos.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Paz

Meu coração voa pesado num mar de martírio
Que me prepara pruma manhã de plumas brancas
Do meu amor que não acabava
Por não se gastar
Gasto agora o gosto pra que venham outros
Gasto o ouro pra que a prata tenha seu valor
De essência.
Aquele brilho branco misturado à luz perfeita
Aquele brilho no escuro do aperto do peito
O deus perfeito na confusão das seitas
Seu coração no seio da canção
E meu rádio em perfeito defeito

Que a paz se restabeleça
Nesse mar de plumas brancas
Confusão de deuses nas seitas perfeitas
Deuses
Eu
E
Você.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Morte

Me sinto sujo pela merda que você me jogou
Me sinto sujo pela falta de amor
Do amor que arrancastes de mim
Com olhos tão poderosos quanto inúteis
Mas não posso deixar me contaminar
Essa sua soberba disfarçada de autoestima
Porque se és hipócrita comigo
Ainda resta uma esperança no cair em si
Ainda.
Mas por enquanto desisto da força do perdão
E me resguardo no meu sentimentalismo barato
Que sangra imagens de ódio impossível
Como um elefante numa caixa de sapato
Meu coração enrugado bate um estrondo surdo
Como um estertor quase inaudível da morte de um santo
Que sabe lá no fundo que não sabe o que é o Tudo
Das santas escrituras que o guiaram pelos anos
Anos de auto-flagelo
Mas hoje deus morreu pra mim
Pra que no som funerário do celo
Nasça uma linda sinfonia
No fim
De mim.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Amor (Entranhas)

Eu quero ver seu Amor
Amor: suas entranhas,
Estranhas vontades,
Gritos no medo do escuro,
Risos jogados ao sol,
Pichações atrás do muros
Junto com o gozo mais sagrado
E a menstruação mais sangrada
Me deixar lamber o seu sangue
Pra deixar eu sentir a sua alma...
Quero que gema não pra se mostrar
Mas pra se mostrar
Pela vontade de que seus gemidos me pesquem do abismo
Do meu corpo
E o nosso gozo se torne eternidade
E não apenas uma bolacha de chocolate
Que se come o recheio
E se joga a casca atrás do sofá...
Eu não quero ser nada seu
Marido, pai
Algoz, escravo
Uma tábua de passar
Quero ser uma blusa esquecida no fundo do armário
Mas que quando se põe
Veste-se a pele do casulo no qual a lagarta se reconhece borboleta:
Possibilidades de se reconhecer...
Quero ser parte do seu Amor
E que quando formos embora
Eu seja uma lembrança do que você se tornará.