sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Infindo fardo

Desconfiado da segurança eterna
Que é tão terna, mas não dura tanto
Como um soluço antes do pranto
Presente que nunca se entrega

Uma muda vil de árvore bela
Sentinela assassina dos palácios
Veneno lindo, odor tão táctil
Que emana dessas lindas pernas

Encaixe esse quebra-cabeça
Peças raras, talvez mereça
A honra linda dessas guerras

O abraço e pele e seios fartos
Dessas esquinas que são quartos
Inteiros que a serra encerra:
Terra: gozo infindo de fardos...

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Tinkerbell

Há um lugar
Especial mas escondido
Onde há maravilhosos mendigos
Sexagenárias orgásmicas
Anjos antes crianças abortadas
É lindo lá
Mas para acessá-lo
Só no susto do seu sorriso
Que estupra meu peito
Arrancando meu siso
Num espasmo de sonho
E lá não há violência
Só o ímpeto de amar
Que se transmuta em gozo da Alma
Tsunami-calma
Urgência eterna
Frases soltas reescrevendo a Bíblia Terrena
Especial mas escondido nas esquinas sujas
Do meu olhar:
Você mora lá.
É, Você mesmo.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Sacro Ofício da Morte (A Arte)

A Arte
É um Sacro
Ofício
DA
VI
DA
A Arte
É um vento parado
Janela
Escancarada
Pra ida
Sem volta
A Arte
É um sacro
Vício
DA
I
DA

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Tiro De Amor

Certo dia voltei a sonhar. Me deu uma vontade de sorrir... Não sorri. Me deu uma vontade de chorar... Não chorei. Pra quê sorrir, pra quê chorar quando se volta a sonhar?
E a realidade é uma Doce Bárbara, e de dentro dessas paredes de concreto ressoa o concreto do meu coração demolindo-se numa implosão secreta e catastroficamente poderosa como o sorriso de uma criança depois da bomba e o suspiro do idoso depois da morte... E minha postura ereta e meu queixo em riste não tem mais nada a ver com os outros: tudo meu. E meus pedidos de perdão por mil reencarnações se transformam num idílico espelho rumo à espiritualização das minhas terrestres entranhas. E as músicas já não são ondas, são energias de pureza no ódio, rancor, mesquinhez, futilidade, mas tudo embebido em ectoplasmas de pureza de Amor.
Venha com suas mãos sujas de sangue e eu as acalanto, pois é o que eu precisei e minha mãe fez por mim, e agora os presos, mesmo presos, não mais urram: gemem. É o que eu posso fazer, me perdoe pela minha grandeza minimalista, mas é tudo que tenho, aceite minha ajuda como uma fissão nuclear do novo big bang da sua eterna transfiguração rumo ao Novo e Eterno Sonho, uma big band de marteladas escrotas mas que pelo menos faz companhia aos estrondos na sua mente.
Foi rente o Tiro De Amor que você me perpetrou: eu que me joguei na frente da tua bala.
tenho coração de poeta
não posso evitar
e dói mutilar suas certezas incertas
porque sua incerteza te dilacera
e eu, tal qual poeta,
me rasgo em reverência
à dor da tua (in)certeza
sempre bela e tensa
e secretamente
tão secretamente
mais profundo que o Nada
que a mentira que não mente
que o gozo na sua cara
mirado na sua mente
ódio que é Amor
Desesperadamente
secretamente a dor
(a que te dilacera rente)
é um prazer duro e solene
lânguido e ardente
pois ao atingir sua alma
ela é (a) minha
e nossa
eternamente

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Amor Interno

É a solidão dos malditos
Solitude no Inferno
Aprenda que o pior vício
É acreditar no amor eterno

Ame o próprio sangue
Misturando-se com o da vítima
Crie em si mesmo a vítima
Vampira linda e exangue

Mas não sei mais dormir
Não quero, ainda sonho
Com algo fora de mim

É normal persistir
Na solidão de um sonho
Que tem Seu não
E Seu Sim?

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Conserve a dor dos ismos

É que eu percebi que pra eles
O passado
É ULTRA
PASSADO
E pra nós
O futuro
É ULTRA
PASSAGEM
Pra eles outro passado
Pra nós
NOVAS PAISAGENS