quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Tiro De Amor

Certo dia voltei a sonhar. Me deu uma vontade de sorrir... Não sorri. Me deu uma vontade de chorar... Não chorei. Pra quê sorrir, pra quê chorar quando se volta a sonhar?
E a realidade é uma Doce Bárbara, e de dentro dessas paredes de concreto ressoa o concreto do meu coração demolindo-se numa implosão secreta e catastroficamente poderosa como o sorriso de uma criança depois da bomba e o suspiro do idoso depois da morte... E minha postura ereta e meu queixo em riste não tem mais nada a ver com os outros: tudo meu. E meus pedidos de perdão por mil reencarnações se transformam num idílico espelho rumo à espiritualização das minhas terrestres entranhas. E as músicas já não são ondas, são energias de pureza no ódio, rancor, mesquinhez, futilidade, mas tudo embebido em ectoplasmas de pureza de Amor.
Venha com suas mãos sujas de sangue e eu as acalanto, pois é o que eu precisei e minha mãe fez por mim, e agora os presos, mesmo presos, não mais urram: gemem. É o que eu posso fazer, me perdoe pela minha grandeza minimalista, mas é tudo que tenho, aceite minha ajuda como uma fissão nuclear do novo big bang da sua eterna transfiguração rumo ao Novo e Eterno Sonho, uma big band de marteladas escrotas mas que pelo menos faz companhia aos estrondos na sua mente.
Foi rente o Tiro De Amor que você me perpetrou: eu que me joguei na frente da tua bala.
tenho coração de poeta
não posso evitar
e dói mutilar suas certezas incertas
porque sua incerteza te dilacera
e eu, tal qual poeta,
me rasgo em reverência
à dor da tua (in)certeza
sempre bela e tensa
e secretamente
tão secretamente
mais profundo que o Nada
que a mentira que não mente
que o gozo na sua cara
mirado na sua mente
ódio que é Amor
Desesperadamente
secretamente a dor
(a que te dilacera rente)
é um prazer duro e solene
lânguido e ardente
pois ao atingir sua alma
ela é (a) minha
e nossa
eternamente

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