sábado, 28 de setembro de 2013

Hermética morte

Explodir o mundo
Enforcar todos os infiéis
Que não idolatraram o D-eu-s
Inclusive eu, que me idolatrei tanto
Ao ponto de acalentar mais a cruz
Do que o mártir do amor nela cravado...
O mundo me enganou. E fraquejei
Curvei-me na grandiosidade do oponente
Sentei-me na humildade de reconhecer meu limite...
E aconteceu que fui tão humilde,
Tão cristão no meu revide,
Que me percebi tão, mas tão humilde
Que não seria cruel em travar uma luta
Contra mim mesmo... “Quem você pensa que é?” –diz o espelho
“batendo em alguém de óculos?”
Tadinho dele (de mim)...
É hermética e intransferível a morte
Mas se cada um morre do seu jeito
Apesar disso, todos morrem.


Davi Kaus

Teletransporte

Imagens de iguarias e tecidos finos
Dentro de Suburbia
Quero descansar nessa cidade-desespero
Eu senti o vento com seus olhos me olhando
O fel se transformou em mel
Poluição se abriu e vi o céu
Puro, e o tiro no escuro foi só brincadeira
De crianças felizes.
Como as Cascatas e as musas
Como os morangos na CNB-09
Dentro de mim
As sensações que nunca deveriam ter ido
Embora (e por isso não foram.
É que o tempo é quase implacável. Quase.)
Fogueira na beira do mar. E depois da turba
A solidão benévola. O descanso desmaiado
Na cama, o suspiro profundíssimo
Antes de encher a cara de sonhos
Misteriosos pra dar o que falar amanhã...
Pessoas em volta, pessoas (não projetos)
Leve. E não é impossível, afinal
É passado. E se aconteceu, pode acontecer
De novo.


Valéria Dusaki

O último suspiro da doença

No tempo em que estive no inferno
Farrapos travestidos em ternos
Na morte encontrando-me eterno
Num fogo que era decerto inverno

Sentia-me bem por não sentir nada
Sentença indubitável, dor inexata
Coração arrancado, alma presente
Cabeça esmagada e lembranças recentes

Quis sentir o gosto de novo
Quis voltar pra casca do ovo
Quis respirar bem outra vez
Rever o filme pra entender
O que o vilão (eu) fez

Sei que posso voltar no tempo:
A consciência é o melhor dos remendos
O espelho é o melhor dos conselhos

Felicidade é uma filha bem criada
Persista, acredite e ame. Mais nada...
A maior revolução é sirene e calada.


Valéria Dusaki

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

"... e rema a rima."

Por todo poeta imerso na solidão
Mesmo com a companhia das pegadas no chão
Pelos que quase morreram quase que quase sem razão
E os que refizeram o quebra-cabeça a um segundo do iminente vão

Meu abraço
Meu afeto
Minhas costas aladas
Cheias de sangue abjeto.

Por todo trabalhador que sonha com a família
Sonhando com alívio em como seria
A riqueza tão nobre inusitada do seu patrão
Na sua mão

É um poeta
Quem se presta
A se prestar
É o amor
Junto com a dor
Com a essência da rima
De não rimar.


Davi Kaus

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Explosão dos olhos da esquizofrenia

Nesses dias chuvosos
Os horizontes se estreitam
Nós no nosso pequeno mundo
O universo numa casca de noz
Efêmera de ínfimas babaquices
Travestidas em palavras lindas,
Em Olavo Bilac.
E a verdade augusta-angelical
Submersa em vasos (e afins)...
Sempre tentamos, nesses dias,
O equilíbrio entre tristeza e solidão
Quando o óbvio seria o acerto entre
Tristeza e alegria, no mínimo
Tristeza e esperança.
Nesses dias chuvosos
O embaço não é do tempo, mas da nossa visão
O frio não é do tempo e sim da nossa alma
Como há pessoas que odeiam o verão,
Como há pessoas que odeiam a calma
De um dia de verão-bilac.


Valéria Dusaki

Quebra-cabeça

Quando ele morreu, me senti péssimo
Mas quando sonhei com sua volta
Não me senti bem
Descanse em paz e pra sempre
Sem sofrimentos outra vez, por favor...
Elas são lindas, então, meus amigos,
Que me perdoem, fico excitado
Mesmo.
Ninguém tem coragem de falar
Como eu nessa poesia na qual falo tudo
Mesmo sem querer (querendo)
Jesus e sexo, é o sono
É como na tortura
Na câmera escondida
Na câmara obscura
E as fotos vendidas
Se você não falar
Em descansar pra sempre
E em ficar excitado
Malas de dinheiro no rabo da cueca
É freudiano (ou freudiânus!!)
Mas rapaz, você pegou no meu mas rapaz
E eu fiquei excitado mesmo
Foi um lance dada-surreal-safado
Como ela na frente e ao mesmo tempo
Do lado e atrás.
Olhos de Rena.


Valéria Dusaki