terça-feira, 1 de outubro de 2013

"Arniqueira segunda (Primeira)"

Ouvi passos
E era um cão vadio.
Ele era Deus.
Todos somos cães vadios
Famintos cheirando carcaça atrás de sorrisos
Sedentos por você e por nós...
Ouvimos um tiro no beco
Demos um tiro no desespero
Levamos um tiro por excesso de esmero
Com a vida.
E quase morremos.
A água turva que você vê
É diferente na Arniqueira
Tem eira e beira e nenhuma arnica, não mais...
Tem bêbados
E trabalhadores matinais sôfregos
Preços mais altos que os da areia do deserto
Decerto Areal (hehehe)
É uma classe baixa-média
É uma Idade Média
Mais futurista do que os progressistas querem acreditar
O futuro é a enxurrada
Transportando os pés e as vontades de quem ama o que é sujo e morto na segunda...
São Paulo é a cidade que nunca pára?
Arniqueira é o bairro que nunca dorme
POIS A ESPERANÇA É UMA CRIANÇA FAMINTA QUASE MORTA
MAS CHEIA DE ESPERANÇA:
A INSÔNIA É A COMIDA.
Mas me divirto
Meus amigos estão aqui
Nas cantinas e becks e igrejas
Nos Bombas e nas cervejas
Nos papos sobre o futuro
Nas distribuidoras de murros
Contra o sistema
Murros dormentes mas certeiros
Canção inacabada mas inteira
Composta na parada da Arniqueira...
Pra mim acima de tudo é Rock.
Vocês conhecem Rock?
Ouvi passos
Numa rua daqui
Me deu medo
Parecia Deus vindo
Ou um cão vadio:
Quem sabe era eu.


Davi Kaus





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