quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Cristina

Eu tive um sonho
A mão afagava o meu rosto, carícias
De um anjo chamado Infância.
Em meio aos brinquedos uma volúpia sincera
E inocente. INOCENTE! Inocente...
Sem drogas ou egoísmo. Infância
Sem saber o que é saudade
Mas hoje eu sei. E como dói a pureza
Na memória agora ignota
Da felicidade... É uma onda
Num mar que nunca existiu e, por isso,
É o mar mais lindo na face de um
Planeta extinto há trilhões de anos-luz.
A mão afagava o meu rosto, carícias
De um anjo chamado Infância.
Eu quero me matar pra ver se essas
Sensações e fatos se materializam
No espírito por toda a eternidade.
Ou simplesmente dormir pra sempre.


Valéria Dusaki

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Sucumbir

Nós sempre sucumbimos aos
Pecados. Às tentações. Mundanas
Apenas não. Não só consumistas
Nem comunistas. O espírito-carne
Humano é isso mesmo. Contradições...
Contradições.


Valéria Dusaki

Flor-de-lis

Rosas mortas, dor...
A você isso é tudo o que desejo.
Não mais pureza, flor,
Você na cova é tudo o que vejo
A margarida está morta,
Em seu lugar rosas amarelas se proliferam
Como uma doença maligna
Capaz de matar a mais linda
Rosa vermelha...
A anêmona venceu a campainha
Não há mais crisântemos vermelhos,
Nem sequer centáureas, apenas
Cravos-de-defuntos...
Campos infestados de dedaleiras, gencianas,
Gerânios escuros, jacintos e tulipas amarelas
Onde antes haviam rosas brancas, nenúfares,
Crisântemos brancos, camélias, madressilvas
E, principalmente, Girassóis...
Você se lembra quando o miosótis
Era a nossa flor predileta?
Você era minha orquídea, meu lírio, meu
Amor-perfeito...
Agora mando-te uma flor-de-lis
E, junto com a mesma, milhões
De cravos amarelos e,
Quem sabe um dia, terei o prazer
De enfiá-las, uma a uma,
Em seu túmulo.


Valéria Dusaki

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Soneto para Pedro

Pedro de força e carinho
Pedro Pedra Preciosa
Pedro: minha, tua e nossa
Certeza de um mundo mais lindo!

Vejo um futuro guerreiro
Pro meu guerreiro do Amor...
Ótima luz aonde for:
Esse é o meu sobrinho Pedro!

Pedro é completo em si.
Ele é que nos privilegia:
Nan-mãe, família e amigos...

Dó-ré-mi-fá-sol-lá-si
Minha completa melodia:
Estrela-esperança que sigo!


Davi Kaus

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Clarice e eu

Hoje acordei com uma esperança triste
A esperança do fim
O ciclo eterno...
Percebi a alma sutil que emana das coisas
As coisas me olharam
E percebi o seu olhar sorrateiro
E houve a troca
O Amor é a sutileza da troca, não é apenas troca
Quanto mais sutil, maior
Quanto mais rarefeito, mais pesado
Quando a gente se perdeu um do outro
Foi quando a gente se achou
Às vezes parece cínica a lógica do Amor
Singrando nesse sangue
Como barquinhos de papel num arroio de rua
De um prédio da CNB 08
Pisando nesse mangue
Caçando caranguejos com meu pai
Hoje eu vi fotos antigas
De um inestimável amigo que há tempos não vejo
Pois já morreu
Na foto estou eu
Descanse em paz meu lindo amigo.


Davi Kaus

Flores híbridas do manicômio portátil (petrificação hitlerista)

Eu tenho um coração obscuro
O brilho está dentro
Na batida de passos de meninos brincando no escuro:
Estão lá na mesma medida que os invento...
Quarto de pânico
Acolchoado de amor
Um portátil manicômio
Que no jardim cultivam-se flores híbridas
E elas que se cultivam
Minha loucura está em querer desmembrá-las em flores únicas
Sendo a mistura única
E inevitável.
Meu coração me traiu
E me disse que foi sem querer
Que foi involuntário
E que sendo um músculo involuntário
O perdão teria que assim sê-lo...
Perdoei, foi totalmente lógico
Mas a arritmia me pousou triste
Nisso ele mentiu
Pra si mesmo, pra mim si mesmo...
Éramos as flores híbridas do manicômio
E eu já tinha esse manicômio portátil
Salpicado de flores híbridas de amor...
Cérebro alma coração e pá em riste: vamos desmembrá-las
Essas flores malditas do meu manicômio portátil!
Geneticistas e jardineiros
Parteiros e coveiros
Aleijados e inteiros
Uma nação inteira empenhada na morte do amor!
Matem o tempo
Suturem a poesia
Esperneiem sobre a raça superior
Império Estático de Dor e Pureza
PUREZA!!!!!!
PUREZA?
PUREZA...
A hibridez me magoou
Me tirou o chão da eternidade
Arrancou minha fé nessa cidade
E o problema não é a cidade
Mas minha estupidez em ter fé nela
E a mágoa veio da prepotência
De por um deus morto querer manter acesa a vela...
Minha loucura está em querer desmembrar as flores híbridas do amor
Mas é que dói a verdade
Da inevitabilidade
Vem do medo
Do manicômio portátil sucumbir á petrificação hitlerista
Tudo se consome
Nada é pra sempre
Me tornei insone por medo da mutação dos sonhos
Se eu me tornar poesia
Não escrevo mais poesia
A poesia é o adubo do jardim do manicômio
Eterno
Efêmero
Manicômio...


Davi Kaus


















sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Rito em Hertz (Metal Machine Music)

Eu sinto sonhos desgraçados
Saindo dos meus olhos
Milhões de almas tentando se conectar
Se desconectando... são as milhões de estrelas
Nas sinapses, são as estrelas transitórias
Do meu céu-cabeça
...
São uns golfinhos mais escrotos gritando
Crianças mortas em suspiros eletro-paranormais
Prismas singrando nos ares rarefeitos da putrefação
Pré-epifania
Prantos
Padres, gritos da pureza de um mosteiro-masmorra
Rito em Hertz
Rito em Hertz
Rito em Hertz
...
E um cara alto que conversa muito:
Um alto-falante
É um carro-prédio:
Um alto-imóvel
É um lugar que eu não sei dizer onde
Pois é todo lugar
Me tira daqui, seu carinho é tão violentamente sincero
Que me faz morrer
De rir, doer do mais ruidoso silêncio
RRRRRRRRRUÍDO OPACO. ESCOLHA A COR.
...
A verdade me faz passar mal pra depois me libertar
Caos coerente
Verdade reticente
Foda-se
E escuta
O inescutável








De novo (!)

De novo. A luz fraca e o vinho barato
O mundo louco e o ser insensato
Sozinho no meio de tantas pessoas
Más. Boas, eu sei. Também boas...

Fazendo falsos sonetos onde
A maior poesia é a prosa.
A regra, abundante exceção esconde.
O vermelho-sangue se esconde no rosa

Eu só quero sinceridade de ações
Nas ações. Você, que lê esse alarde
Pode me dizer algo sobre isso?

Subverto as regras em nome das tentações
Mas tentações são regras num mundo tão covarde
Onde a pinga-dinheiro é o único precipício

Quem sabe eu não me jogue
A partir de ontem.



Valéria Dusaki

(Difícil...)

Quando eu fico assim
Só fico andando de um lado pro ou-
Tro. De um lado pro outro
Lado pro outro. Enjaulado
Na própria raiva. Raiva, raiva.
Como um animal que mata
A própria mãe. A própria mãe
E bebe do próprio sangue
Será que no mangue os cérebros
De merda comem as próprias mães?
A chuva pode ser tão pura
E tão sanguinolenta. Puro sangue
Sangue, sangue, sangue, sangue
Afinal os contratos de aluguel
São assinados com o sangue
Dos pedreiros que fizeram a porra
Do edifício. É difícil
Difícil. Difícil. Difícil...


Valéria Dusaki