quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Diálogo

Você se pega, às vezes,
Com medo de conquistar e depois perder
Assim preferindo a inércia morta
Ao invés do perigo arfante de viver?
Você se sente, às vezes,
Um títere implorando por cordas
Uma puta implorando por foda
Um espelho implorando pra ser?
Você se vê, às vezes,
Em minúcias de planejamentos
Praticamente de si mesmo um jumento
Chibatando-se ao mesmo tempo a empacar?
Você se põe, às vezes,
Na preguiça disfarçada de impotência
Na doença disfarçada de doença
No morrer que se esconde no matar?

Você se pega, às vezes,
Com medo da felicidade boba
De um cachorro lambendo seu filhote
Se tornar o seu filhote mais querido?
De de repente (quem sabe)
O medo covarde e egoísta
Se tornar um lindo corisco, a faísca
Que faltava pra explodir o falso abrigo?
E você vê, às vezes,
A parede do seu quarto
Se tornar o seu retrato:
Milhões de planos sem amor?
Ou já se viu paralisado
Pelo orgulho ressentido
Da escolha não ter sido
O arco-íris que pensou?

Não se esqueça, mas relaxe
O sofrimento é de praxe
Pra quem se descobre humano
Tendo um céu maravilhoso
Tendo um céu em carne e osso
E sendo assim não tão santo
Dê-se o tempo que precisa
Só não abuse pois a vida
Cobra o desperdício da dor
E é uma sinergia linda
Quando a mais maldosa lida
Dá a recompensa do Amor.


Davi Kaus






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