sábado, 26 de dezembro de 2020

As Romãs de Alice

 

Hoje fui catar romã com minha mãe.

O pé de romã e a romã em si são, tanto em separado quanto em conjunto, de uma beleza rústica porém suave. A cor da romã, um rosa-verde, é da maturidade de anjos terrestres: áridos esperançosos, sutileza pandêmica de destroços alados, a beleza do sangue ralo produto de uma Vida de Amor. Os tons claros do pé de romã me lembram uma mendiga que conheci que se pintava com caneta esferográfica ao meio-dia no meio da ADE de Águas Claras, tão magra, tão caneta esferográfica, mas de Poesia Pungente na magreza. Sei que não existe beleza na miséria, mas existe beleza na esperança que emana de um Pé De Romã no meio da ADE. Ou do daqui de casa.

Pra catar a romã que queríamos, tivemos que cortar alguns galhos, que no chão ficaram como amigos que deixamos pra trás para chegarmos à fruta proibida da maturidade solitária. Tão verdinhos os galhos amigos. Tão gostoso seu verde claro, mas quero a romã perfeita no centro da fruteira. Os galhos estavam me traindo, tirando-me o direito do gosto até então desconhecido das sementes da romã. Eu tentei chegar até as seivas sem cortá-los, mas minha mãe, sábia, me disse que para chegarmos ao galho principal da Vida teríamos que deixar pessoas verdes no caminho, mesmo que isso machuque o coração. Eu, sendo verde, me sentia bem com meus companheirxs verdes, apenas alimentando a casca da romã sem provar sua linda cor. Mas alguns estavam mais perto da romã, e sentiam seu cheiro, e eu queria aquela cor da casca: qual seria o cheiro do gosto da cor da casca da romã? Isso meus amigos verdes não me revelavam, e me senti no jardim do Éden, e Deus é verde e eu sou um galho-serpente. E cansei de discutir sobre as verdades da Deusa-Mãe. Que cortemos os galhos verdes.

Finalmente arrancamos a romã! Sim, não catamos: arrancamos, desbravando aquela altura com o podador assassino de galhos verdes. Não tivemos culpa, juro! O desejo quem despertou foi a romã, e a culpa é da Mãe. Estou livre da culpa, que na verdade, é minha. Mas os galhos, esses sim, mereceram a poda filosófica. Nenhum galho pode me impedir de sentir o gosto róseo-verde de uma casca tão linda. Minha mãe, já conhecedora da Romã, a descascou, e o rosa pululou em deliciosos sulcos de sementes doces, as quais meu sobrinho já conhecia e eu não, esse já tendo se fartado do doce da Vida vindo da mão da Avó e, depois de começar a comê-los, percebi o Amor de Vó, o Amor de Mãe e o amor de Mulher. Mas tinha ouvido falar do chá da casca de romã, que era bom pra garganta e pro fígado, e eu, cantor alcoólatra, pensei: “é a fruta da minha vida.” Mas a Deusa avisou que o róseo da Vida é amargo. Bem, se eu bebo cachaça, eu devo por uma questão de honra aguentar o amargo da Vida. Comi a casca no seco: mas que porra, é Amarga mesmo! Venha Amargo da Vida filho da puta, eu quero que venha mesmo, porra, mas nem tanto, nous, que gosto horrível!!!! Péra, tá passando, ai, deixa eu comer umas sementinhas lindas e docinhas da Vó do meu Sobrinho... ALÍVIO...

A Romã é a Vida: a casca terrível que contém seu próprio antídoto que é a semente rósea doce do Amor ErosÁgapeFiloSerpente. A Casca é a ressaca, é a noite solitária triste, são os anos de Amor vencidos por um tapa, é meu egoísmo transmutado em sua raiva e deserção de uma guerra falsa por uma pátria chamada Eu. É a Morte do meu Pai e dos meus Amigos mortos em vida enterrados em caixões chamados Saudade. É o Anjo da caneta esferográfica de Águas Claras. Já a Semente é a redenção onírica e hedonista da Cor que guarda o DNA que produzirá os galhos lindos verdes e a nova casca amiga da onça-serpente.

Romã é Roma e Amor e o Verde-Rosa da Mangueira. E obviamente a rima perfeita pra travesseiro.

Então se cale perante à Deusa e arranque seu Romã-Amor!             

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A Pátria Poética de Haia

            A conheci através de uma Amiga-Anja, a mesma que tatuou em mim “A ESSÊNCIA BROTA”. Quando a luz brilha, ela faz barulho, que sinestesia bacana. Ou foi o Silêncio que gritou?

            A Deusa através de outra Deusamiganjaprofana. É uma Deusa que, como toda Deusa, existe se esgueirando no lustres flutuantes de uma deidade onipotente, mas em fama inglória: Haia ou Clarice? Maceió ou Tchetchelnik? Anarquista ou Anarquia? O quê ou Essência (do quê? Quem é quê?)... A palavra Essência se esgota quando escrita. Ainda mais maiúscula.

            Eu não entendo a Flor no Coração de olhos tão severos nas fotografias, mas fotografias são apenas as penas oriundas da luta dionisíaca-estoica-colossal-epopeica-atemporal-épica entre o ovo e a galinha, e as penas nasceram antes das penas... Eu gosto da Clarice Lispector porque ela consegue, como o Charles Bukowski e a atriz Grace Gianoukas, extrair do cotidiano, até então considerado banal, a Iluminação de quando saí do Útero da minha mãe Alice: a Clarice esclarece o gozo-gosma da barata, mas também redesmonta as trevas do Útero das nossas mães Alice e Mania, a masmorra que se tornou o resquício de perfeita escuridão daquele recôndito. O êxtase que exala da literatura clariceana é o cheiro férreo-doce do infinito mais abismal chamado sombra uterina. No caso do Buk a sombra é a da porra no vidro da janela, mas esse tópico não é relevante no momento. Muito em vários, mas não agora.

            A Clarice é de uma doçura da porra. (Não tô conseguindo. Eu quero me tornar ela pra falar dela, mas se eu me tornasse ela não poderia falar dela, porque somos espelhos refletidos... OPA, ESTOU CHEGANDO PERTO! DE ONDE MESMO?)  A Haia me faz amar o Brasil e a língua brasileira-portuguesa. Mas não é isso. É que ela se permite ser estrangeira de si mesma e isso causa uma atração entre pólos iguais que ressignifica a verdadeira pátria, a do dia-a-dia. A Pátria Poética de Haia é o olhar pros céus se perguntando se vai chover em Moçambique ou na Argélia ou no Chile, mas na Pátria Poética de Haia chove uma chuva de setas que tentamos engolir pra que voltemos ao eixo inaceitavelmente inequívoco do Nada.

            A Flor no Peito me dá uma vontade incontrolável de ser o não-ser, pra daí ressumar apenas o Gozo fazendo-o exponencial em outro Poema até a Morte morrer e viver nos vários dez de dezembro que vierem (ou é nove?)

            Te amo, Clarice. Nem sei se te amo. Por isso Te Amo.

            A Luz Brilhou Barulho Outra Vez           

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Gozo de Chôro

Eu vi a Linda Morte dissolvendo as cores do agora que se foi

Faz-se um odor estranho

Não fede nem cheira, perfume inodoro

Mas Doloroso

Gozo de chôro.

A Inspiração é um Deus estranho

Desmantelou-me caminhando

Na Arniqueira às 11 da manhã de uma terça

Numa rua de lugar nenhum, a frase perfeita dita em segredo de Deus pro Demônio.

A desconstrução do Rosa na Rosa

O pulo do gato do despertencimento pro repertencimento

Num emaranhado da Matrix:

A Inspiração é o Gato da Matrix

Mas não há Matrix, são dez minutos numa manhã numa rua em direção a nada.

Momento perfeito em que a oportunidade de esquecermos

É tão sedutoramente saliva de sexo

Que as glândulas não param,

Tudo seca menos as glândulas,

!QUE O MUNDO SEQUE E O SEU MOLHO MOLHE MEU INTUMESCIDO PAU DE DAR EM AMOR DOIDO!

É um absorto vívido

Câmera-lenta afoita

Como uma boa metida.

Absurdamente insípido

Nem caga nem sai da moita

Mítica da quase vida...

Mas quando saímos

Caímos no abismo fantasmagoricamente sucubus-incubus

Do gozo do chôro.

Quase acreditei que ela tinha voltado

Sendo que ela nem foi embora...

Eu senti a Linda Morte ao norte das cores

Fortes, agora doces. Cheiros, agora Sorte

Completo Gozo de Chôro.

   


sábado, 14 de novembro de 2020

Preces ao Maravilhoso Nada

Milhões de corações quebrados

Renasceram em mim

E a culpa é sua.

Não dá pra passar o pano

Em tantas lágrimas

É o Sal de Marés Mil

Miríades de dor em cada canto do Brasil

Eu não aguento mais

Há um cansaço em tudo que vejo

Em tudo que sinto

Porque não é meu fígado fudido

Não é meu coração partido

Tudo se partiu de novo

E de novo

E de novo

O Ovo da Clarice quebrou em meu peito

Estou provando da Omelete que a Clarice amassou

A Poesia está deste lado

O Poeta está destilado em sangue nas mãos 

Sou do Panteão do Desgraçados do Amor 

Não sou parnasiano pra escrever palavras em torpor

Mas quero os louros da Grandeza do Abismo

Quero o Rosa do sangue da Rosa

Já que tudo é Morte

Quero o gozo maravilhoso desse Norte

Que norteia a Vida rumo ao Nada

Esse Nada em piscadelas nos recônditos

Quero a violência do beijo

A violência da topada

A sede da Virgem

A Paixão de Cristo no meio das pernas

Minha língua pervertendo o platônico

O momento eterno pervertendo o anacrônico

Nossa pele num gozo supersônico

Materialize-se, minha Deusa sem Tempo!

Quero acariciar-te como acaricio essa Ideia de Amor

Me sentir amado

Armado de Amor

Te fazer cosquinhas com suas penas

Ah, que pena, que nada

Nada mais vale a pena

O Nada do Amor vale tudo

Quando você sorri, minha Deusa!

A tristeza da imaterialização me magoou agora...

Você já esteve aqui

E preferi rezar pro meu altar imaterial

A desfazer sua santidade

Não, o medo foi meu de te materializar

E perecer

O que é matéria perece

Mas é melhor perecer do que auto-flagelar-se nos Sonhos mortos das preces

A prece

É o perecer

Do NADA...


domingo, 8 de novembro de 2020

Mestre-nos

Professor:

Eu não sei onde estou

Talvez saiba o que sou

Nesse momento em suas mãos

Seu, parte dos que serão

Nós mesmos

Desate o nó em mim

Desate o não do sim

Sou luz

Sou cruz

Me reconheça

Me veja como sua extensão

Deumsol

Asóssemprejuntos

Te pergunto

Se posso errar

E o colo da sua consciência

Me fará

Acertar

Acerte-me com sua incerteza

E Te Amo pela sua incerteza

De confiar na nossa certeza 

Em mim. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Tisc-tasque

 O relógio pra mim

Não faz nenhum sentido

Tentativa mesquinha

De repartir o Infinito

Tisc-tasque

Não pregue o relógio na parede:

Tasque o relógio na parede

O tempo não pára: 

Posa

O tempo não passa:

Desrosa

Re-rosa

Jesus pregado na parede é o relógio mais inútil

Pregaram os ponteiros de Jesus no crucifixo

A cruz não é fixa

É mais dinâmica que isso

Amor, Solidariedade e Perdão...

Mas o que eu queria dizer mesmo?

Ah, tá

Do relógio pro Sim

Custa meio tic-tac

Mas do relógio pro fim

Ínfima eternidade.

E acabou meu tempo.

Serááááááááááááá?



quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Sócrates na Cagada

Porque na maioria das vezes dá merda.

Hoje eu fui fazer uns exames pra saber os reais estragos que a vida desregrada de um bêbo réi causa na carcaça: cachaças baratas, Cantinas da Serra, 88, Derby, e um coração ferido por milímetro cúbico de sangue. Normal. O Brasil de verdade tá daí pra baixo. O povo é foda. Pro bem e pro mal.

De jejum peguei o ônibus, pra fazer um exame pro qual tinha que ficar de jejum e beber muita água. Fiquei de jejum mas esqueci de beber água. Na semana passada, aniversário do sobrinho, delícias e doces de criança, me empanturrei. Já aproveitei pra dar aquela desintoxicada básica. Desintoxiquei do açúcar, mas me reintoxiquei de dia-a-dia: tinha perdido o prazo de um dos exames, o qual não pude fazer por simples burocracia. Fiquei puto mas o erro foi meu. A atendente tava de mal humor, mas imaginei: se eu e ela estivéssemos num hospital público? Teríamos que engolir guela abaixo nossos maus humores no entorpecimento da realidade brutal. Bem, fiz um dos exames ainda.

Pra esse que consegui fazer, tinha esquecido de beber água, o que a enfermeira falou pra eu começar a imediatamente fazer. Borabora, Dez copos de água depois, a vontade de mijar não vinha (pra fazer o exame tinha que estar com a bexiga cheia). Depois dos dez copos, falei pra enfermeira:

-Meu bem, ainda não deu nada. Que faço? 

Ela, simpática com a besta quadrada aqui, falou:

-Querido, vá dar uma andada. Quando apertar, volta.

Fui andar na frente do hospital. Depois de uma garrafinha d´água começar aquela vontadezinha mequetrefe, me lembrei: "o que que eu tô fazendo? É cerveja, porra!!!! A resposta é CERVEJA!"

Bem, estava evitando beber após eventos desastrosos bêbado, e consegui uma desculpinha safada que aliviaria minha culpa pela auto-sabotagem. E seria uma Heineken. Porra, uma Heineken gelada ao meio-dia num calor infernal merece qualquer desculpa. Só uma poxa!

Tomei-a. Saboreei-a. Nunca um exame foi tão bom. Se tiver algo errado, pelo menos a desculpa perfeita no mundo foi inventada. Mas pensei: "e se der merda? Algum problema no exame?" Bem, ultrassonografias são por fora, pô. O álcool não vai influenciar tanto. Só uma poxa. Tomei a cerveja, fiz o exame, e falei "essa história é Rock. A galera vai adorar!" Saí pra almoçar andando. Mas veio o peido. Ah, o peido. Sabe AQUELE PEIDO? Pois é.

Caguei-me todo. No meio da rua. E agora, Deus dos cagados? O que acontecerá com minha alma, tão sublime, porém agora profanada pela bosta fétida? Era só uma desculpinha Deus... Foi só uma! Porque me castigastes dessa forma, fazendo-me andar pela cidade dessa forma, CAGADO? Pegar ônibus não dá, Uber não dá também. Um jatinho não dá. Acabou minha vida, minha masculinidade se esvaiu pelo meu cú. Não há dinheiro que apague um olhar de reprovação de alguém quando se está borrado. Esquece. Fim da Linha pra você meu velho. Não és mais homem, és um rato. E cagado ainda por cima.

Fui andando pra casa. E puto, resolvi tomar mais uma num bar, cagado mesmo, foda-se. Liguei prum brother, chamado Clodoaldo, apelido Clô. Não atendeu. Sentei no bar, pedi uma, com medo do dono sentir o budum e me expulsar de lá. 

-Ô, meu chefe, traz uma cerva por gentileza. Meu dia tá uma merda. Preciso relaxar.

-É pra já Irmão! Mas é adiantado, porque cê tá cagado. 

-Pouurra, é minha bermuda que tá marcada, é? É o cheiro? Como você percebeu?

-Não irmão, é que cê tá com cara de merda mesmo. Melhora ela aí. Você encontrou o Paraíso, acabei de pôr papel no banheiro. Não cague na mesa, temos banheiro. 

-Valeu, meu velho. Você é meu segundo pai, cara. 

-Nem tanto, cagão, nem tanto. Mas já fiz tanta merda na vida que eu te entendo. De boa. Só melhora essa cara porque pior que um cagado é alguém com cara de merda.

Caralho, encontrei Sócrates e ele é um dono de bar agora. E na cagada, nunca bebi aqui. Que felicidade. 

Parei e pensei: "ora, eu já nasci todo fudido. Cheio de placenta, sangue, eu vim da porra, porra. Dentro do útero nem oportunidade de fazer merda eu tinha, em todos os sentidos. Ah, vai morrer por tá cagado, ô seu merda? MERDA NÃO! Só um pouquinho na cueca, nem vazou." Bem, mas ir de ônibus seria um desrespeito, já que poderia, sem querer, pelo desconforto de inadequação querendo sentar-me logo, pousar-me ao lado de uma distinta senhora, que, tendo um olfato normal, poderia atentar-se ao fato do flato mal performado (ou muito bem performado, afinal se o peido é o anúncio da bosta, foi um peido super econômico, afinal foi tudo numa tacada só... Tacada não, peidada). 

Cheguei em casa, pensando em todas as merdas que fiz na vida. Até certo momento da caminhada foi super engraçado, até o instante que começou a assar aquela merda nas pernas da consciência... 

Mas estou vivo. A vida dá merda sim, muitas vezes, sempre vai dar. E pra isso só há uma coisa a se fazer: tome banho quando chegar em casa. E agradeça pelos Sócrates de merda que você encontra pelo caminho. São anjos travestidos de dia-a-dia. E cuidado com a Heineken num dia de sol, que pode dar merda MESMO. 


                   

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Linda Hipocrisia

 Eu hoje amassei um papel escrito Eu amo Você

Com todo Amor do mundo

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Bend-Rapadura

Cê quer coisa fácil vá comer um Big Mac

A vida é rapadura: doce mas não é mole não

Mas quando é doce, ela dura uma doçura que dança na língua

A doçura te lambe como o vento da tempestade

De um samba de Amor

De um Rock espasmódico do qual o Amor sangra

De um bend fudido, lento e lindo

Bend-Rapadura

Mas se queres um Big Mac tá tudo bem também

Amém

O bom da vida é a delícia do Bem

Do gosto do fel e do mel sempre brota

Pela janela escancarada ou pelo vão da porta

O Amor que na essência se é e se tem  

sábado, 26 de setembro de 2020

Desap(ego)

Nem com você

Nem sem você:

POR VOCÊ.

Você não me faz falta

A sua ausência me faz

Não mais ausência

Já esqueci a reticência

Já esqueci até a demência

Pra poder aproveitá-la mais

Do que a sua ausência ausente

Até a ausência fugiu da ausência

Tem ideia do que você me fez 

Não sentir?

Sem tirar nem pôr

Nem tirar você

Nem pôr você:

POR VOCÊ.


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Flor do Amor do Acaso

Não pise numa Flor no chão.

Não que ela esteja triste implorando pela sua atenção...

Não! Mas que menino prepotente...

Quem se acostuma a brincar com flores imaginárias

Só compõe árias cantantes para personagens de complexidade maior que o bel canto,

Como esse verso tão ressonante

E demente.

Não! A Flor Linda está bem

Só que ela quer ficar melhor

Florindo o caminho de alguém...

Então não A pise

Magoado pela Beleza ter te questionado

Sobre o rumo do seu caminhar tão compenetrado

Quanto inútil:

Pare

Observe-a

Suspire pelo encontro inesperadamente esperado

Agache-se

Deite-se

Dê-lhe palavras potentes e sutis

Beije aquela RosaVioletaCrisântemoOrquídeaCravo

Dê-lhe o mais Lindo Adeus

Aquele ateu pela iminente/eminente Saudade da Deusa-Flor

(Ou você acha que o caminho dos Perdidos de Amor é só seu, 

ÓÓÓÓÓ jovem mancebo...)

Sabe, ela já foi pisada

Desnorteada como você

E te ama por não tê-la posto num vaso:

O verdadeiro Amor

É maravilhar-se com a linda Ilusão

De que uma Fantástica Flor um dia

Mudou nosso inútil rastro

E enlouquecendo de Amor

Nos juntamos àquela Flor

E nos tornamos

Essa linda Flor do Amor do Acaso.


terça-feira, 15 de setembro de 2020

Deus Saudoso

Tão saudável mas saudoso

Estou sagrado mas insosso

Osso implorando por cão

Tudo implorando por tão


Ouro bolorado, Arco

Do triunfo decadente

Carne implorando por dente

Ditador virando anarco


Verdadeira Perfeição

É o ciclo do Deus Eterno

Com uma arma na mão


Suicidou e foi pro inferno

Agora tudo completo

Qual a próxima estação?


quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Livre o livro lascivo do Infinito

 Livre-se

Que o livro da Vida

Paira no ar

Pendular sem lar

Num Sol em Lá

Em tons de olhos

Retângulos lascivos no fim do Infinito

Leia as palavras que emanam dessas bombas

Tão alvas, tão vazias.

Que seu Coração, em pêndulo estelar

Pairando no seu Livre Mar

Desague 

Do seu íntimo Mar

A palavra perfeita:

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Pronto, falei (Isso é saudade)

Eu juro

Do âmago

Do íntimo

Que me arrependo

Por não ter deixado ela me comer.

Nem uma lambidinha...

Paciência.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Nenê-Poesia

Escrever 

É torcer o tecido cardíaco

Até cair a última gota estelar

Do retorcido Aço

É dar porrada no asfalto

É espancar o asfalto

Trucidar o asfalto

Até num grunhido desgraçadamente filho da Desgraça

Ressurgir a Flor

Meu útero dói, minha mais Amada Filha

Desata do íntimo do inferno a grandiloquente

Essência da minha grande e sacra vagina

Imagina

A Dor do primeiro grito de um ser humano

E o alívio após o engasgo da placenta dos anos

Imagina

E vire a sacra vagina

Do Nenê-Poesia


quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Nárnia aqui do lado

Eu queria que as pessoas me vissem

Não como um meio para um fim

Mas como um fim em mim.

Não vissem o que eu tenho

Não vissem como eu sou gostosa

Não vissem o meu status no underground

Não vissem os equipamentos que eu tenho

Não vissem o carro que eu não tenho.

Vissem o pai que eu perdi

E a família carinhosa que eu ganhei

Vissem que o que eu dou é por bondade

Vissem minha sensibilidade

Vissem minha escrotidão

Mas não vissem apenas o que lhes convém

Não vissem se digo ou não amém

Ou pra quem

Mas porquê o digo

Não me vissem como uma casa luxuosa

Mas me vissem como um Abrigo Ambulante

Leal e infiel

Mas também um papel 

Em branco...

Pra quem não quer simplesmente comprar livros de poesia

Mas ser POESIA

Tudo o que eu quero precisa se tornar alteridade íntima primeiro

Abandone a carência e o desespero

Não. Não abandone.

Converse com eles

Atitudes não são bombas arremessadas de longe por máquinas

Quero ver você enfiar o sabre em seu oponente e ver seus olhos contorcerem-se

A alma que nem sabemos se esvaindo

O grito de horror

Amar não é poesia em Facebook.

É constatar que 

Num abraço 

Sincero 

Você cativou alguém 

Pra sempre

E saber lidar com isso

S

E

J

O

G

U

E

N

O

P

R

E

C

I

P

Í

C

I

O

   .

    .

     .

      .

       .

        .

         .

quinta-feira, 30 de julho de 2020

O Jardim do Amor (Tudo)

Pensando sobre o Amor 
Observei duas borboletas no jardim: 
Singrando em asas luminosas 
Sacras e fogosas abençoadas pelo DeuSol 
Elas berravam EU TE AMO reverberado em asas-tímpanos 
Meus tímpanos se tornaram suas Asas 
Morada mirando o Mar a mil quilômetros 
Lado a lado dentro 
No Ar. 
Um minuto depois 
Não mais duas 
Vi nuas 
Uma e uma 
Em Flores 
Uma em cada lado do jardim de Mim 
Não não... Nãosim... 
O que importa: 
Borboletas 
Mim 
Ou o Jardim? 
Tudo

terça-feira, 9 de junho de 2020

Fonema Amor

Saudade da seita simples
De S singrando o Céu
Sou seu, sou sua, sim, nossos
Amor até os ossos sibilando afagos bons

O S do excesso de nuvens
Que lábios já foram, já carne, já nada
Agora o S segura a Saudade
Às vezes dá raiva e o R é que sangra...

Que todo alfabeto
Seja ectoplasmado de Amor
Tal qual o Z que não há na desilusão

Fonema Amor, grafia não importa
O que importa não é a porta
Mas o olhar atrás dela:
A Súplica é o Fonema
Porta, a grafia da Dor...

Que maçaneta seja Amor em fonema.

Espelho, espelho meu?

Espelho, espelho meu
Por ser só meu, facílimo emudecê-lo
Sem opositores mais ferrenhos
Às cartas pra consciência que eu mesmo lambo o selo

Espelho, espelho meu...
Mas que no fundo é feito de vocês
Mais cedo ou mais tarde tudo o que se fez
Aparece desengonçado como remorso reluzindo

Há um outro caminho
Que só percebi
Quando enclausurado sem mais olhos pra me adentrar
Ou esquivar

Sempre houve esse caminho
Mas o sino da consciência, bêbado
Sempre ao longe longe a tilintar

Aproveite o chamado
Mesmo que a chama ao lado
Possa tudo exterminar

Aproveite esse espelho
Mesmo com esse olhar horrível
É só dessa Verdade
Que o Amor se refará.



sexta-feira, 5 de junho de 2020

Soneto desigual à Súplica

Quero um Amor tranquilo
Café num fim de tarde
Amor sem ser por quilo
Ou litro e sim densidade

Muito tempo me vi no escuro
Condenado a macular
Todo o meu andar rumo ao futuro
Praguejando para o ar

Agora peço ao ar pesado
(Na verdade é o meu peito confuso
Entre prosseguir e pensar)

Que me mostre o não-fardo,
Que o meu peito tão difuso
Reencontre o sentido em caminhar...

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Sagrada Pele

Onde estiveres, meu futuro eterno Amor
Num bunker sujo ou no Imaculado Céu
Na rua em transe louco ou num saguão de hotel
No meu DNA estarás, não importa onde for

Que te suporte a esperança em si mesma
E em mim, já que já me salvas de longe
Já que é tão escassa e aos montes
A esperança, que é a real comida que põe mesa

Te encontro na cura que é um pranto
Por um sonho que é finito mas é santo
Pois como um santo se atreve a não ter fim

Mas não minto que eu sonho tanto, tanto
No intuito de que seu sagrado manto
Se torne sua humana pele em mim.





sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Infindo fardo

Desconfiado da segurança eterna
Que é tão terna, mas não dura tanto
Como um soluço antes do pranto
Presente que nunca se entrega

Uma muda vil de árvore bela
Sentinela assassina dos palácios
Veneno lindo, odor tão táctil
Que emana dessas lindas pernas

Encaixe esse quebra-cabeça
Peças raras, talvez mereça
A honra linda dessas guerras

O abraço e pele e seios fartos
Dessas esquinas que são quartos
Inteiros que a serra encerra:
Terra: gozo infindo de fardos...

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Tinkerbell

Há um lugar
Especial mas escondido
Onde há maravilhosos mendigos
Sexagenárias orgásmicas
Anjos antes crianças abortadas
É lindo lá
Mas para acessá-lo
Só no susto do seu sorriso
Que estupra meu peito
Arrancando meu siso
Num espasmo de sonho
E lá não há violência
Só o ímpeto de amar
Que se transmuta em gozo da Alma
Tsunami-calma
Urgência eterna
Frases soltas reescrevendo a Bíblia Terrena
Especial mas escondido nas esquinas sujas
Do meu olhar:
Você mora lá.
É, Você mesmo.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Sacro Ofício da Morte (A Arte)

A Arte
É um Sacro
Ofício
DA
VI
DA
A Arte
É um vento parado
Janela
Escancarada
Pra ida
Sem volta
A Arte
É um sacro
Vício
DA
I
DA

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Tiro De Amor

Certo dia voltei a sonhar. Me deu uma vontade de sorrir... Não sorri. Me deu uma vontade de chorar... Não chorei. Pra quê sorrir, pra quê chorar quando se volta a sonhar?
E a realidade é uma Doce Bárbara, e de dentro dessas paredes de concreto ressoa o concreto do meu coração demolindo-se numa implosão secreta e catastroficamente poderosa como o sorriso de uma criança depois da bomba e o suspiro do idoso depois da morte... E minha postura ereta e meu queixo em riste não tem mais nada a ver com os outros: tudo meu. E meus pedidos de perdão por mil reencarnações se transformam num idílico espelho rumo à espiritualização das minhas terrestres entranhas. E as músicas já não são ondas, são energias de pureza no ódio, rancor, mesquinhez, futilidade, mas tudo embebido em ectoplasmas de pureza de Amor.
Venha com suas mãos sujas de sangue e eu as acalanto, pois é o que eu precisei e minha mãe fez por mim, e agora os presos, mesmo presos, não mais urram: gemem. É o que eu posso fazer, me perdoe pela minha grandeza minimalista, mas é tudo que tenho, aceite minha ajuda como uma fissão nuclear do novo big bang da sua eterna transfiguração rumo ao Novo e Eterno Sonho, uma big band de marteladas escrotas mas que pelo menos faz companhia aos estrondos na sua mente.
Foi rente o Tiro De Amor que você me perpetrou: eu que me joguei na frente da tua bala.
tenho coração de poeta
não posso evitar
e dói mutilar suas certezas incertas
porque sua incerteza te dilacera
e eu, tal qual poeta,
me rasgo em reverência
à dor da tua (in)certeza
sempre bela e tensa
e secretamente
tão secretamente
mais profundo que o Nada
que a mentira que não mente
que o gozo na sua cara
mirado na sua mente
ódio que é Amor
Desesperadamente
secretamente a dor
(a que te dilacera rente)
é um prazer duro e solene
lânguido e ardente
pois ao atingir sua alma
ela é (a) minha
e nossa
eternamente

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Amor Interno

É a solidão dos malditos
Solitude no Inferno
Aprenda que o pior vício
É acreditar no amor eterno

Ame o próprio sangue
Misturando-se com o da vítima
Crie em si mesmo a vítima
Vampira linda e exangue

Mas não sei mais dormir
Não quero, ainda sonho
Com algo fora de mim

É normal persistir
Na solidão de um sonho
Que tem Seu não
E Seu Sim?

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Conserve a dor dos ismos

É que eu percebi que pra eles
O passado
É ULTRA
PASSADO
E pra nós
O futuro
É ULTRA
PASSAGEM
Pra eles outro passado
Pra nós
NOVAS PAISAGENS

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Jesus-Lama

É um blues triste isso
Redundâncias em diferentes idiomas.
Tristeza badtrip
Não quero mais comer dessa comida suja
Mas o passado é uma roupa apertada que machuca pouco a pouco a cada segundo
E quando vejo a alma está cercada pelo nosso suor
Em roupas íntimas dos outros
Minha alma está suja
Lavo desesperadamente o espírito e os cabelos
A pele se exaspera em sangue
Só quero a liberdade dos seios da Vida
Do pertencer entre o caranguejo e o mangue
Que pertence aos braços de uma infância falida
Que só volta na revolta
De adultos que não mais gritam:
Grunhem.
Nada é tão triste
Estou sendo fraco
Paranoia em riste
Imaginação em rastros
Desconhecidamente vívidos
Como a presença dos Mortos
A cruz está de cabeça pra baixo
Minha santidade o demônio instalou
Num DNA defeituoso
Câncer premeditado
Auto-estupro orando por gozo
O fundo do poço é o meu rosto no espelho
O céu azul agora se desfaz em lodo
Crianças morreram dentro de mim
E foi assim
Que Jesus
Ressuscitou
No meu
Coração
Lama