segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

As Flores do jardim

Queimei as flores do jardim
Pus meus filhos lá
Injetei drogas em mim
Quis que o sangue evaporasse
Fiz minha pele de réptil
Fiz meus pensamentos fétidos
O ódio não foi embora

Matei minha mãe e meu pai
Tentei cortar a raiz
Mas essência não se desfaz
Machuquei mais o nariz
Me tranquei num quarto escuro
Fui sincero, pensei fundo
O ódio não foi embora

Rezei em coma letárgico
Rezei com olhos alcoólicos
Profanei todos os mártires
Profanei Jesus e Sartre:
O ódio não foi embora.


Valéria Dusaki



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Disparate-disparado (dispara-te!)

Há quanto tempo te encontrei?
Duas vezes num sonho
Num era um fim de tarde
Noutro era o fim da vida...
A noite chegou, não é mesmo?
Sem saber e calculada a esmo,
Num tiro na multidão, ermo...
Esse anjos-metano-vultos estão ficando
Abusados, querendo parar o coração
Querendo subverter minha razão...
Nunca tenho razão mesmo
Ainda mais assim, com sono
Fico sonhando acordado
Vendo coisas.


Valéria Dusaki

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Diálogo

Você se pega, às vezes,
Com medo de conquistar e depois perder
Assim preferindo a inércia morta
Ao invés do perigo arfante de viver?
Você se sente, às vezes,
Um títere implorando por cordas
Uma puta implorando por foda
Um espelho implorando pra ser?
Você se vê, às vezes,
Em minúcias de planejamentos
Praticamente de si mesmo um jumento
Chibatando-se ao mesmo tempo a empacar?
Você se põe, às vezes,
Na preguiça disfarçada de impotência
Na doença disfarçada de doença
No morrer que se esconde no matar?

Você se pega, às vezes,
Com medo da felicidade boba
De um cachorro lambendo seu filhote
Se tornar o seu filhote mais querido?
De de repente (quem sabe)
O medo covarde e egoísta
Se tornar um lindo corisco, a faísca
Que faltava pra explodir o falso abrigo?
E você vê, às vezes,
A parede do seu quarto
Se tornar o seu retrato:
Milhões de planos sem amor?
Ou já se viu paralisado
Pelo orgulho ressentido
Da escolha não ter sido
O arco-íris que pensou?

Não se esqueça, mas relaxe
O sofrimento é de praxe
Pra quem se descobre humano
Tendo um céu maravilhoso
Tendo um céu em carne e osso
E sendo assim não tão santo
Dê-se o tempo que precisa
Só não abuse pois a vida
Cobra o desperdício da dor
E é uma sinergia linda
Quando a mais maldosa lida
Dá a recompensa do Amor.


Davi Kaus






terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sinos e microfonias

Torrente de emoções sem sentido, LIXO
Corrente de Jesus e Maria, RITO
Como o sono de um sino vazio, LIXO
Aberrações bem à luz do dia, RITO

Ecos do fundo da caverna
Onde eu te espero, baby
Rastejando por entre a merda
Yeah, yeah, yeah, yeah, baby

Não acordei de um sono vadio, NOITE
Me deparei com meu rosto no espelho, DIA
Copo de vinho, vida por um fio, NOITE
Noite: BEIJOS; arame farpado: DIA

Quase que eu vejo o alívio
Com a sorte vi um convívio
Sem a morte, com a certeza
De vida com amor e beleza

Mas as britadeiras voltaram outra vez, NOITE
Pra atirar na cara de vocês, DIA
Até o osso eu odeio a sua luz, DIA
Fico com as microfonias contra a cruz, NOITE.


Valéria Dusaki

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

As noites de um Poeta (fajuto)

Atravesso a noite mais uma vez
Como uma faca no bucho do tempo...
Ponho Girassóis nos túmulos
Sonhos revelam a realidade
As ruas vazias cheias de espíritos,
Ecos distantes dos que passaram.
Cada segundo que passa é um passo à frente
Da morte. Da Morte (desculpe a
Irreverência, my sweet bloody Lady.)
Garganta sêca. Gole de cerveja
E me sinto um Poeta outra vez...
Eu vi todos na cidade morrerem, e com um
Sorriso no canto da boca e uma caneta
Pra registrar o motivo segui
Rumo à cidade que não sucumbirá:
Meu coração, capital da minha Alma.
Mas a lembrança dos que morreram cria
Um cemitério de zumbis atrás dos meus olhos
A maneira como a rainha enforcada sorria
Me faz arrepiar cada um de meus poros
E a maior comprovação de que o tempo passa
São as pessoas que ficam e as que ficam
No caminho, meu ninho já não é mais
O mesmo também. Como me achar?
O que resta é esperar pela única que acha
Todos e todas. Hello, my sweet bloody Lady...


Valéria Dusaki

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Cascatas de estrelas

São lembranças que só eu me lembro
Esperanças que eu não recomendo
Duas partes e um só lamento
Personagens que só eu enceno
Só eu lembro daquelas mãos frias
Só eu lembro da chuva-cabelo
Afinal eu dei as poesias
Fui eu que me expus por inteiro

Só eu sei qual o primeiro dia
Só eu sei qual foi o derradeiro
Só eu sei que eu sei que é fevereiro
Só eu vi nas estrelas que via
Eu que sonho com a nostalgia
Lembro do que foi bom e ruim
Quero de novo aquela alegria
Reviver as emoções em mim

Talvez seja só um artifício
Pra fugir de um presente chinfrim
Achar que só foi bom no início
E agarrá-lo desse jeito assim
Mas eu sei que é bem mais do que isso
A infância sempre é melhor
Não temos noção do precipício
De lembranças sozinhas e só.


Valéria Dusaki

Lógica Epifania

Esse prestes me mata
Esse prestes não presta
É uma faca que me rasga
Mesmo estando cega
Minha pele virou grade
Meu olho-mágico quebrou
Não vejo de quem é o alarde
Do outro lado do amor

Tem algo nascendo
Quero reviver o feto
Que eu era
Tem algo crescendo
Enquanto olho o teto
Que encerra
Meus sonhos embolorados
Mas mesmo assim há vida ali
Sei que há um quê de sagrado
No demônio tentar fugir...

Difícil transição
Na avenida espasmódica
Não quero lógica
Quero epifania
Quero o coração
Na respiração asmática
Quero matemática
Na filosofia:
Quero o extremo que não há...


Davi Kaus

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Cristina

Eu tive um sonho
A mão afagava o meu rosto, carícias
De um anjo chamado Infância.
Em meio aos brinquedos uma volúpia sincera
E inocente. INOCENTE! Inocente...
Sem drogas ou egoísmo. Infância
Sem saber o que é saudade
Mas hoje eu sei. E como dói a pureza
Na memória agora ignota
Da felicidade... É uma onda
Num mar que nunca existiu e, por isso,
É o mar mais lindo na face de um
Planeta extinto há trilhões de anos-luz.
A mão afagava o meu rosto, carícias
De um anjo chamado Infância.
Eu quero me matar pra ver se essas
Sensações e fatos se materializam
No espírito por toda a eternidade.
Ou simplesmente dormir pra sempre.


Valéria Dusaki

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Sucumbir

Nós sempre sucumbimos aos
Pecados. Às tentações. Mundanas
Apenas não. Não só consumistas
Nem comunistas. O espírito-carne
Humano é isso mesmo. Contradições...
Contradições.


Valéria Dusaki

Flor-de-lis

Rosas mortas, dor...
A você isso é tudo o que desejo.
Não mais pureza, flor,
Você na cova é tudo o que vejo
A margarida está morta,
Em seu lugar rosas amarelas se proliferam
Como uma doença maligna
Capaz de matar a mais linda
Rosa vermelha...
A anêmona venceu a campainha
Não há mais crisântemos vermelhos,
Nem sequer centáureas, apenas
Cravos-de-defuntos...
Campos infestados de dedaleiras, gencianas,
Gerânios escuros, jacintos e tulipas amarelas
Onde antes haviam rosas brancas, nenúfares,
Crisântemos brancos, camélias, madressilvas
E, principalmente, Girassóis...
Você se lembra quando o miosótis
Era a nossa flor predileta?
Você era minha orquídea, meu lírio, meu
Amor-perfeito...
Agora mando-te uma flor-de-lis
E, junto com a mesma, milhões
De cravos amarelos e,
Quem sabe um dia, terei o prazer
De enfiá-las, uma a uma,
Em seu túmulo.


Valéria Dusaki

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Soneto para Pedro

Pedro de força e carinho
Pedro Pedra Preciosa
Pedro: minha, tua e nossa
Certeza de um mundo mais lindo!

Vejo um futuro guerreiro
Pro meu guerreiro do Amor...
Ótima luz aonde for:
Esse é o meu sobrinho Pedro!

Pedro é completo em si.
Ele é que nos privilegia:
Nan-mãe, família e amigos...

Dó-ré-mi-fá-sol-lá-si
Minha completa melodia:
Estrela-esperança que sigo!


Davi Kaus

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Clarice e eu

Hoje acordei com uma esperança triste
A esperança do fim
O ciclo eterno...
Percebi a alma sutil que emana das coisas
As coisas me olharam
E percebi o seu olhar sorrateiro
E houve a troca
O Amor é a sutileza da troca, não é apenas troca
Quanto mais sutil, maior
Quanto mais rarefeito, mais pesado
Quando a gente se perdeu um do outro
Foi quando a gente se achou
Às vezes parece cínica a lógica do Amor
Singrando nesse sangue
Como barquinhos de papel num arroio de rua
De um prédio da CNB 08
Pisando nesse mangue
Caçando caranguejos com meu pai
Hoje eu vi fotos antigas
De um inestimável amigo que há tempos não vejo
Pois já morreu
Na foto estou eu
Descanse em paz meu lindo amigo.


Davi Kaus

Flores híbridas do manicômio portátil (petrificação hitlerista)

Eu tenho um coração obscuro
O brilho está dentro
Na batida de passos de meninos brincando no escuro:
Estão lá na mesma medida que os invento...
Quarto de pânico
Acolchoado de amor
Um portátil manicômio
Que no jardim cultivam-se flores híbridas
E elas que se cultivam
Minha loucura está em querer desmembrá-las em flores únicas
Sendo a mistura única
E inevitável.
Meu coração me traiu
E me disse que foi sem querer
Que foi involuntário
E que sendo um músculo involuntário
O perdão teria que assim sê-lo...
Perdoei, foi totalmente lógico
Mas a arritmia me pousou triste
Nisso ele mentiu
Pra si mesmo, pra mim si mesmo...
Éramos as flores híbridas do manicômio
E eu já tinha esse manicômio portátil
Salpicado de flores híbridas de amor...
Cérebro alma coração e pá em riste: vamos desmembrá-las
Essas flores malditas do meu manicômio portátil!
Geneticistas e jardineiros
Parteiros e coveiros
Aleijados e inteiros
Uma nação inteira empenhada na morte do amor!
Matem o tempo
Suturem a poesia
Esperneiem sobre a raça superior
Império Estático de Dor e Pureza
PUREZA!!!!!!
PUREZA?
PUREZA...
A hibridez me magoou
Me tirou o chão da eternidade
Arrancou minha fé nessa cidade
E o problema não é a cidade
Mas minha estupidez em ter fé nela
E a mágoa veio da prepotência
De por um deus morto querer manter acesa a vela...
Minha loucura está em querer desmembrar as flores híbridas do amor
Mas é que dói a verdade
Da inevitabilidade
Vem do medo
Do manicômio portátil sucumbir á petrificação hitlerista
Tudo se consome
Nada é pra sempre
Me tornei insone por medo da mutação dos sonhos
Se eu me tornar poesia
Não escrevo mais poesia
A poesia é o adubo do jardim do manicômio
Eterno
Efêmero
Manicômio...


Davi Kaus


















sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Rito em Hertz (Metal Machine Music)

Eu sinto sonhos desgraçados
Saindo dos meus olhos
Milhões de almas tentando se conectar
Se desconectando... são as milhões de estrelas
Nas sinapses, são as estrelas transitórias
Do meu céu-cabeça
...
São uns golfinhos mais escrotos gritando
Crianças mortas em suspiros eletro-paranormais
Prismas singrando nos ares rarefeitos da putrefação
Pré-epifania
Prantos
Padres, gritos da pureza de um mosteiro-masmorra
Rito em Hertz
Rito em Hertz
Rito em Hertz
...
E um cara alto que conversa muito:
Um alto-falante
É um carro-prédio:
Um alto-imóvel
É um lugar que eu não sei dizer onde
Pois é todo lugar
Me tira daqui, seu carinho é tão violentamente sincero
Que me faz morrer
De rir, doer do mais ruidoso silêncio
RRRRRRRRRUÍDO OPACO. ESCOLHA A COR.
...
A verdade me faz passar mal pra depois me libertar
Caos coerente
Verdade reticente
Foda-se
E escuta
O inescutável








De novo (!)

De novo. A luz fraca e o vinho barato
O mundo louco e o ser insensato
Sozinho no meio de tantas pessoas
Más. Boas, eu sei. Também boas...

Fazendo falsos sonetos onde
A maior poesia é a prosa.
A regra, abundante exceção esconde.
O vermelho-sangue se esconde no rosa

Eu só quero sinceridade de ações
Nas ações. Você, que lê esse alarde
Pode me dizer algo sobre isso?

Subverto as regras em nome das tentações
Mas tentações são regras num mundo tão covarde
Onde a pinga-dinheiro é o único precipício

Quem sabe eu não me jogue
A partir de ontem.



Valéria Dusaki

(Difícil...)

Quando eu fico assim
Só fico andando de um lado pro ou-
Tro. De um lado pro outro
Lado pro outro. Enjaulado
Na própria raiva. Raiva, raiva.
Como um animal que mata
A própria mãe. A própria mãe
E bebe do próprio sangue
Será que no mangue os cérebros
De merda comem as próprias mães?
A chuva pode ser tão pura
E tão sanguinolenta. Puro sangue
Sangue, sangue, sangue, sangue
Afinal os contratos de aluguel
São assinados com o sangue
Dos pedreiros que fizeram a porra
Do edifício. É difícil
Difícil. Difícil. Difícil...


Valéria Dusaki

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Notícias de sempre

Dias de merda
Jornal-Funeral
Guerras espirituais
Sofrimento carnal
A carne é fraca, o espírito é forte
E por isso todo mundo morre
Pra eles bosta na água
É pobre em enchente
E ninguém se enche
E todos são enterrados vivos
Como indigentes (índios-gente)
Índios, gente!! Gente?
Ah, é...Enterrados vivos...
Thabalho-sacrifício
Cidade dormitório-hospício
Hipnose-TV nos remetendo a
Vidas passadas (em eternos replays)
Senhas de cofre
De dinheiro volátil
Veias de cobre
Olhos de cobra-cega cibernética
Seios desnudos
Pra aplacar a dor contida no gozo
Mãos imundas
Depois de lavarmos ajudando o outro
Visão além da fumaça
E o que vi foram pilhas de mortos:
Pilhas.

Valéria Dusaki

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Fim de tarde da noite

Como eu esperei pelo sol...
Mas ele não veio, afinal era de noite
Como esperei pelo prazer debaixo do açoite
Como esperei por sentimentos no formol.

A lua estava lá pelo menos
Quase como um remendo, porém embebido
Em bálsamo de licor, contradição sendo
Intrépida e incolor como burro fugido.

Minhas imagens embaralhadas não incomodam ninguém
Mas dizem respeito a todo mundo
Mesmo o mendigo vagabundo e imundo
Sofre e pragueja, assim sendo, contra aqueles que tem
E com alguma razão
Apesar do espírito nada são
(E apesar do espírito, para os outros nada são
Os mendigos).

O dia não veio (eu sei...era de noite!)
Mas a esperança contida nisso é eterna
Sei da minha amada longe e sempre terna
E sei também da noite, do formol
E do açoite
E estou aqui ainda, esperando...


Valéria Dusaki

terça-feira, 1 de outubro de 2013

"Arniqueira segunda (Primeira)"

Ouvi passos
E era um cão vadio.
Ele era Deus.
Todos somos cães vadios
Famintos cheirando carcaça atrás de sorrisos
Sedentos por você e por nós...
Ouvimos um tiro no beco
Demos um tiro no desespero
Levamos um tiro por excesso de esmero
Com a vida.
E quase morremos.
A água turva que você vê
É diferente na Arniqueira
Tem eira e beira e nenhuma arnica, não mais...
Tem bêbados
E trabalhadores matinais sôfregos
Preços mais altos que os da areia do deserto
Decerto Areal (hehehe)
É uma classe baixa-média
É uma Idade Média
Mais futurista do que os progressistas querem acreditar
O futuro é a enxurrada
Transportando os pés e as vontades de quem ama o que é sujo e morto na segunda...
São Paulo é a cidade que nunca pára?
Arniqueira é o bairro que nunca dorme
POIS A ESPERANÇA É UMA CRIANÇA FAMINTA QUASE MORTA
MAS CHEIA DE ESPERANÇA:
A INSÔNIA É A COMIDA.
Mas me divirto
Meus amigos estão aqui
Nas cantinas e becks e igrejas
Nos Bombas e nas cervejas
Nos papos sobre o futuro
Nas distribuidoras de murros
Contra o sistema
Murros dormentes mas certeiros
Canção inacabada mas inteira
Composta na parada da Arniqueira...
Pra mim acima de tudo é Rock.
Vocês conhecem Rock?
Ouvi passos
Numa rua daqui
Me deu medo
Parecia Deus vindo
Ou um cão vadio:
Quem sabe era eu.


Davi Kaus





sábado, 28 de setembro de 2013

Hermética morte

Explodir o mundo
Enforcar todos os infiéis
Que não idolatraram o D-eu-s
Inclusive eu, que me idolatrei tanto
Ao ponto de acalentar mais a cruz
Do que o mártir do amor nela cravado...
O mundo me enganou. E fraquejei
Curvei-me na grandiosidade do oponente
Sentei-me na humildade de reconhecer meu limite...
E aconteceu que fui tão humilde,
Tão cristão no meu revide,
Que me percebi tão, mas tão humilde
Que não seria cruel em travar uma luta
Contra mim mesmo... “Quem você pensa que é?” –diz o espelho
“batendo em alguém de óculos?”
Tadinho dele (de mim)...
É hermética e intransferível a morte
Mas se cada um morre do seu jeito
Apesar disso, todos morrem.


Davi Kaus

Teletransporte

Imagens de iguarias e tecidos finos
Dentro de Suburbia
Quero descansar nessa cidade-desespero
Eu senti o vento com seus olhos me olhando
O fel se transformou em mel
Poluição se abriu e vi o céu
Puro, e o tiro no escuro foi só brincadeira
De crianças felizes.
Como as Cascatas e as musas
Como os morangos na CNB-09
Dentro de mim
As sensações que nunca deveriam ter ido
Embora (e por isso não foram.
É que o tempo é quase implacável. Quase.)
Fogueira na beira do mar. E depois da turba
A solidão benévola. O descanso desmaiado
Na cama, o suspiro profundíssimo
Antes de encher a cara de sonhos
Misteriosos pra dar o que falar amanhã...
Pessoas em volta, pessoas (não projetos)
Leve. E não é impossível, afinal
É passado. E se aconteceu, pode acontecer
De novo.


Valéria Dusaki

O último suspiro da doença

No tempo em que estive no inferno
Farrapos travestidos em ternos
Na morte encontrando-me eterno
Num fogo que era decerto inverno

Sentia-me bem por não sentir nada
Sentença indubitável, dor inexata
Coração arrancado, alma presente
Cabeça esmagada e lembranças recentes

Quis sentir o gosto de novo
Quis voltar pra casca do ovo
Quis respirar bem outra vez
Rever o filme pra entender
O que o vilão (eu) fez

Sei que posso voltar no tempo:
A consciência é o melhor dos remendos
O espelho é o melhor dos conselhos

Felicidade é uma filha bem criada
Persista, acredite e ame. Mais nada...
A maior revolução é sirene e calada.


Valéria Dusaki

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

"... e rema a rima."

Por todo poeta imerso na solidão
Mesmo com a companhia das pegadas no chão
Pelos que quase morreram quase que quase sem razão
E os que refizeram o quebra-cabeça a um segundo do iminente vão

Meu abraço
Meu afeto
Minhas costas aladas
Cheias de sangue abjeto.

Por todo trabalhador que sonha com a família
Sonhando com alívio em como seria
A riqueza tão nobre inusitada do seu patrão
Na sua mão

É um poeta
Quem se presta
A se prestar
É o amor
Junto com a dor
Com a essência da rima
De não rimar.


Davi Kaus

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Explosão dos olhos da esquizofrenia

Nesses dias chuvosos
Os horizontes se estreitam
Nós no nosso pequeno mundo
O universo numa casca de noz
Efêmera de ínfimas babaquices
Travestidas em palavras lindas,
Em Olavo Bilac.
E a verdade augusta-angelical
Submersa em vasos (e afins)...
Sempre tentamos, nesses dias,
O equilíbrio entre tristeza e solidão
Quando o óbvio seria o acerto entre
Tristeza e alegria, no mínimo
Tristeza e esperança.
Nesses dias chuvosos
O embaço não é do tempo, mas da nossa visão
O frio não é do tempo e sim da nossa alma
Como há pessoas que odeiam o verão,
Como há pessoas que odeiam a calma
De um dia de verão-bilac.


Valéria Dusaki

Quebra-cabeça

Quando ele morreu, me senti péssimo
Mas quando sonhei com sua volta
Não me senti bem
Descanse em paz e pra sempre
Sem sofrimentos outra vez, por favor...
Elas são lindas, então, meus amigos,
Que me perdoem, fico excitado
Mesmo.
Ninguém tem coragem de falar
Como eu nessa poesia na qual falo tudo
Mesmo sem querer (querendo)
Jesus e sexo, é o sono
É como na tortura
Na câmera escondida
Na câmara obscura
E as fotos vendidas
Se você não falar
Em descansar pra sempre
E em ficar excitado
Malas de dinheiro no rabo da cueca
É freudiano (ou freudiânus!!)
Mas rapaz, você pegou no meu mas rapaz
E eu fiquei excitado mesmo
Foi um lance dada-surreal-safado
Como ela na frente e ao mesmo tempo
Do lado e atrás.
Olhos de Rena.


Valéria Dusaki

sábado, 31 de agosto de 2013

Recortes de pensamento

Eu vi a morte ao lado das minhas decepções
E preferi esquecê-las (as duas)
E dissipadas, decepções decepadas,
Percebi que elas sempre voltam
E ela sempre acaba
E isso não é tão ruim.
Não as quero, apenas percebo
Que são inevitáveis e necessárias.
Na nescidade distinguimos a virtude
Na cidade fica evidente o amor
Coroas de Cristo alérgicas
Mijo asséptico contra arraias
Queimaduras-tatuagens.
Um dia, vindo de lugar nenhum,
Rumo à felicidade, cacei labirintos
Caçoei de mendigos medonhos (risonhos)
Quis me convencer da lógica da
Auto-flagelação cristã. Exausto em Sofrer,
morri. E daí?


Valéria Dusaki

Parte de mim

Eu acho que temos que nos jogar nos abismos. E na queda despertar pra outra vida. E se for pra se matar, que assumamos as consequências de morrer, que é sentir o que não sabemos: mas saibamos que, então, vida e morte se confundem nas dores e alegrias da incerteza.
Tenho muito medo, sou medroso. Mas é porque o céu é muito grande pra mim. Porém o medo passa um pouco quando vejo o céu da perspectiva do sol. Afinal a essência da perspectiva é sabermos que somos parte isolada ao mesmo tempo que parte integrada do todo.
O pior não é alguns fazerem pouco caso do meu sofrimento, sou eu seguir os anjos caídos pros seus infernos pessoais, fazendo daqueles confusões minhas. A minha dor é minha. E já nem tenho mais raiva dos anjos caídos não entendê-la. Não entendo e nunca vou entender sua dor também. E se quiser conversar para amortecê-la, venha. Só trabalhe a sensibilidade em saber se estou no momento ou não de escutar. Já percebestes que sou um anjo caído também, não é?
Mas sinceramente, cansei de chafurdar na minha própria lama. Minhas penas não merecem essa auto-flagelação. No mínimo são penas sinceras que nasceram dos poros da minha pele.
Parte de mim.


Davi Kaus

terça-feira, 27 de agosto de 2013

LEGODOEGO

VIDAVI
VINDOAVIDA
VIDA VI
VINDOAVIDA
DUVIDA?VIVEAVIDA
VIVIVI
NAOAINDA
VI DAVI
VIVA!VIVA
DUVIDA?VIVEAVIDA
VIVEEVIVA
DASEAVIDA
DUVIDA?DÁSE
DASEAVIDA
DAVI
VIDA
DAVI
VIDA
DAVI
VIDAVIDAVIDAVIDA...

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Impressões sobre o(s) dos Anjos

Os vermes hão de prosperar
Hipérboles já não duram
As tênias das almas cinéreas
As tênues reentrâncias bélicas
Recônditos dos amantes

Augusto dos demônios
Ao gosto dos demônios.

Os vermes não vão transcender
Ao ponto de serem deuses
Paixões não serão eternas
Minúcias em questões tão ínfimas
Agulhas são espadas

Augusto dos demônios
Ao gosto dos demônios.

É fétida a beleza etérea
Pois sempre será ilusória
Então mêta a física no rabo
As vísceras não têm alma, ao lado
Do santo há o demônio

Augusto dos demônios
Ao gosto dos demônios.


Valéria Dusaki

Letargia da palavra

Macias como miragens
Mirabolantes imagens
Etéreas pastagens
Gado fornecedor de néctar
Para a pastoral clérica (desculpe...)
Idílio afagado e, mesmo inexistente,
Inebria a dor mortal, tornando-nos
Esqualidez mortal, porém.
Desertos em meio a oásis
Oxigênio, preferimos os gases
Monóxido de tristeza (v(s)ãos deslizes...)
Macias como miragens
As palavras vêm como vento vão
De uma maravilhosa Arábia destruída.
Cantos gregorianos-criptorianos
Múmias carregam o peso de dois mil anos
Nas costas de uma alma etérea-histérica.
No meio da cidade há um verde invisível
Lindo, ramagens frondosas, cheiro de hortelã
Sons de risos intermitentes de xamãs
Todos Jonh Lennon e Yoko Ono
Uno, maconha e liberdade e pássaros
Árabes, estadunidenses, brasileiros e apátridas
Juntos num riacho translúcido e vívido
Fogueiras tais quais fogos no céu
E várias cores no fogo a-químico
Um verde invisível.


Valéria Dusaki

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A morte da poesia (ou a vida)

Pra quê palavras,
Se os sentimentos realmente
Sublimes
São indescritíveis?


Valéria Dusaki

"Quem me dera se fossem só clichês"

Catando os pedaços
Caindo as lágrimas
Olhando sua foto
(Minha foto)
Ficando surdo
Com esse silêncio na alma
Ficando mudo
Sem palavras no grito
Sem razão em pensar muito
Cansado de viver
Esperar por mim no futuro
Escuro, Escufuturo
Ninguém liga (telefone)
Todos ligam (a TV)
A música quer entrar na minha alma
Mas o silêncio virulento a contaminou
E cato as roupas no meu quarto
Como o mendigo cata suas moedas de pedra
Pela rua destruída (mais uma vez)
Então vou cantar o refrão
Afinal, vivo em Eldorado
Já estou em Parságada
Nas fontes amarelas, segui a seta
Dos seus olhos, percorri a gruta
Dos seus poros, parei em mim
Parei no começo do fim
No fim do começo, sempre agonia
A espera de um novo dia.


Valéria Dusaki

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

(Re)Nascimento em Zênite

Até quando será a ultima vez
Que sujo minhas mãos de sangue?
Os mortos se acumulam no armário
Assim como a poeira na TV sempre ligada
Assim como o lixo pútrido em minhas
Vísceras e almas cinéreas
Milhões de almas em milhões de dias
Milhões de noites de êxtase e agonia
Que não se completam
Apenas cercam a prisão-túmulo.
Quero ficar triste não por não fazer
Mas por pular no abismo eterno
De sal e minúsculas partículas de vidro
Dilacerantes até o espírito.
Mania psicótica de me imaginar
No futuro contando sobre um passado
De aventuras, mas estando no presente...
Não existe mais nada! Passado ou futuro,
Culpas ou medos, apenas o gozo
Pelo PRESENTE! PRESENTE! PRESENTE!!!!!!
Ninguém me reconhecerá mais
Serei o fantasma da Meia-noite de Kerouac
Rumo a livros, guerrilhas, músicas
Um sonho rumo à REALIDADE!
SROENAHLOIDADE!!!!!!!!!!!!!!


Valéria Dusaki

Decisões

Foda-se.
Que eu me foda
E não que outro o faça.
Merda,
Que eu me cague
E esfregue na minha própria
Cara. E no espelho.
Quero vontade própria
Nem que seja pra matar-me
E sentir que tenho coragem
De me fuder todo
E encarar que fui o culpado.
Quero decidir:
E tá decidido!


Valéria Dusaki

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Elegia

O medo do futuro deixo agora no passado
Meu coração fatigado por pensar na corrida
Não agüenta mais
O ser humano puro, perene, inviolado
É quimera antagônica à lógica da vida
Além de sem graça demais
Me jogo na tempestade pra descobrir novos mundos
No mínimo se eu falhar há a morte no fundo:
Verdade essencial,
Maior das aventuras, então não terei perdido
Se ao invés do Eldorado encontrar meu pai-amigo
Ou o negro abismal
O melhor da poesia é seu combustível:
Sentimentos
Sejam alegrias ou lamentos
Me lembro daquele dia do céu mais incrível:
Tinha ventos
Feéricas nuvens, arrebol sangrento
Frio na barriga, ansiedade e paixão.


Valéria Dusaki

Medo

Pensamentos de espírito me seguindo
Flutuando rente ao chão, olhos vidrados;
Exorcistas que vêm de todos os lados
Penetrarem-me demônios sempre rindo...

Dá vontade de correr até o nada
E parado então vou perdendo o fôlego.
Depois passos de mil anos para eu, sôfrego,
Voltar ao quarto escuro que é a entrada

Rumo aos sonhos que seriam meu refúgio,
Porém mais um leviano engano, fútil:
Sempre atrás de mim mas nunca posso ver...

Sensação do meu eterno perecer
De não ver os mortos, mas só perceber
Que serei na Terra seu subterfúgio.


Valéria Dusaki

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Éter

Repare no céu
Entre cinco e seis da manhã:
É um quase-gozo
O limiar do fim num ciclo tão óbvio quanto secreto
Ciclo escrito em letras garrafais
No fundo da garrafa desse ébrio
Sorvendo as lindas luzes em pingos tão eternais
Quanto estéreis
Transe do trânsito tão silencioso
Quanto a surdez de um surdo pós-Hiroshima
Lindo breu poetizado por pingentes rutilantemente fantásticos
Perfeitamente postos de lado
Desesperançosos sublimados
Redondamente desenganados
Sutilmente cravados
Na orelha de Deus...


Davi Kaus

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Mêta-a-lingüística

Madrugada pegando fogo de fria
Como o gelo que arde pra depois adormecer
Lá fora o Godzilla mia
E as formigas arrancam pés pra fugirem
De você.
Fósforo sem corpo, só cabeça
E mesmo assim eu o acendo...
G--------------------------
O------------------------
T---------------------
E-------------------
I-----------------
R---------------
A-------------
D-----------
E----------
S--------
O-------
L-----
I---
D--
Ã-
O
.
.
.
Quero me entender em versos decassílabos
Mas sempre passa o número de sílabas
E como escrevo de caneta, fica assim.
Quero me tornar essência, mas a essência
Como nome já trai seu significado...
Os versos perfeitos estão em sensações
Que não duram muito
Quase sempre reavivadas por ações
No passado-futuro
E exploro vários tipos de formas
Mas sempre a perfeita é essa:
( ).


Valéria Dusaki

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Infinito

Eles estão me olhando
Rostos pálidos em escuros cantos
Mantos negros e brancos, que não representam
Ying e Yang. Falam através do
Tic-tac do relógio (tic-tac-tic-tac-estou-
Indo-estou-indo-estou-AQUI)
E não os vejo, me abrindo pelas costas
E enforcando meu coração com suas
Mãos frias.
A geladeira flutuando na cozinha
O corpo boiando na piscina
Agora levitando pela casa
Agora acima da cabeça
E agora uma pedra imensa
Esmagando meus sentidos
Agora transmutados em uno
Medo infinito...


Valéria Dusaki

"Com(sem)cursos"

Não desvalorizem minha Arte
Pois eu A sou
Não me ofereçam dinheiro por Ela
Pois eu A dou, como meu amor.
Não A rotulem, sentimento aqui
É a mesma coisa na China
Minha Poesia não é modernista-pós-
Parnasiana-pré-apocalíptica-meta-anti-
Artística-pós-re-nãofaz-enda.
É cardíaca, é vida que conhece
A Vida assim a sentindo, sentidos
Antes subjugados e por isso agora
À flor flamejante da pele. Em
Times New Roman ou Gothic Master Piece,
Não me importa: são meus olhos
Nos seus olhos nossos.


Valéria Dusaki

terça-feira, 23 de julho de 2013

A Equação do Cacto

Hoje eu percebi que estava conversando com um cacto
Eu era o cacto
Em tudo me transfiguro: cacto, estrelas, Deus
Num tão longe quanto intrínseco pacto
Que a loucura torna eternamente irremediável
Tanto quanto subverte
Meus pensamentos são tão puros
Que legitimam sua pureza no não-ato
Como uma mão invisível que seguro
E que por ser invisível não desato
Falo com uma pedra mas não falo com minha família
Como violões rezando para Santa Cecília
Sacralizei minha vida em torno da dor
De não conseguir o prazer infinito
Sacralizei dessacralizando-a
Numa imantação racional do absurdo
Paradoxei alma e corpo e mente
Gritei pra chegar a essência do som surdo
Que se esconde no escuro da sala
Que imagino no quarto...
Temo o escuro da sala
Vejo o vulto uno
Velo o vulto uno que se tornou minha consciência
Oca com a agonia do que é oco
Preenchida de epifanias de buracos negros
Epifania no rastro que deixa o desespero de sentir e não entender
Precisando tanto se reconhecer
Em si mesmo
Mas deformado
É uma deformação que eu quero diagramar
É uma equação do nonsense que eu gozo quando resolvo
Urro em línguas tão pré-históricas que nunca existiram
Me arrepio na pele de uma ultra-consciência cósmica
É uma equação do nonsense que eu gozo quando resolvo
É uma equação como qualquer outra...

Amanhã

O vento frio corta o meu rosto e eu não sinto nada
O sol da manhã parece uma bomba H na minha cara
E não importa o que eu sinta aqui dentro, não demonstro
Irredutível mesmo estando dentro um anjo ou um monstro

Essa noite foi difícil
Muitos, muitos pensamentos
E os que ficaram foram os tristes
Uma noite insensível
Dormente mas com tormentos
Mesmo dormente o tormento existe

Percorro esse caminho triste rumo ao desconhecido
Com essa sensação de alguém que morre já tendo morrido
Talvez o prazer e a dor façam do outro lado nada
Se sofremos gozando igualmente como ser julgados?

A manhã crepuscular
Não verei se concretizar
Assim como não vi os meus planos
O amanhã não mais trairá
O amanhã não mais trará
A esperança de um mais feliz canto.


Valéria Dusaki

Opostos

A alma humana é imprevisível
Ora humana, ora desprezível
Ora humana, ora tão divina
Os opostos são nossa sina

Estúpidos tão intrigantes
Pelo tamanho da estupidez
Nos lixos tantos diamantes
Em lindos palácios o burguês

Em lindos olhos um vazio
Nas luzes quentes tanto frio
Na lógica tanta demência
Nos vários gritos a dormência

Mas há beleza, eu sei que há
É só querer se esforçar
Pra procurar nesses escombros
Os vários maravilha-sonhos

Sonhos de amores tão febris
De gente linda e tão feliz
De versos fáceis e sinceros
De liberdade como eu quero

Na rua escura e tão vazia
Há dias dentro de uma noite
Num coração que não mais via
A vida fora do açoite.


Valéria Dusaki

segunda-feira, 22 de julho de 2013

"Preces ao vazio?"

As luzes apagadas, mas acesas
Poucos sempre, porém muitos às vezes
Nesse escuro talvez alguém veja
Os muitos ajoelhados em suas preces

Todos gritando enormes cochichos
Perdidos em dilemas do cotidiano
Sem saber todos engolem o lixo
Sabendo só depois de vários anos

Preenchendo o vazio com cocaína
Dispersando o frio com gasolina
Afinal somos nossa destruição
Consumando o autoconsumo
Cada um com sua missão.

Meu coração sentindo, sem sentido
Poucas pessoas bem, muitas tão mal
Cabeça em pé e o coração caído
Tão no começo se sentindo no final

O concreto se personificando
Discretamente descrente ficamos
Concretizando a crença corrente:
Pra continuar vivo, só sendo indiferente.


Valéria Dusaki

Depois da bonança...

Sol em meus cabelos
Céu no meu olhar
Som nos meus ouvidos
Sombra, descansar

Tudo me acalma
Nada me enerva
Bálsamo na alma
Nada me observa

Nada de cinismo
Sentimentos podres
Padres, pedras, risos
A favor das foices

Tudo certo feito
Macarrão domingo
Morte do prefeito
Perfeito, perfeito

No meio da luz um furacão rindo
Baixinho vem vindo um soco no ar
No meio da missa o demônio entrando
Matando o bispo suspenso no ar.


Valéria Dusaki

E você não me sentiu

Não adianta mais
Se enganar pensando que o céu
Um dia pode vir a se tornar terreno,
Aqui é o inferno.
Não continue se enganando desse jeito
Injetando formol no seu peito
Pois te garanto que é bem melhor
Sentir dor do que não sentir nada...
Seu sorriso me fez ter esperança
Sem perceber que o coração se cansa
De esperar que esse sorriso seja por mim
Agora meu espírito se lança
Numa estranha e maldita dança
Com a morte, que parece não ter mais fim.
Por você eu me arrisquei a pensar
Que o amor poderia existir.
Você faz idéia do que me fez sentir?
Eu fui do céu ao inferno
Do possesso de ira e ódio ao terno
Do verão escaldante ao inverno
E tudo isso por alguém que eu nem
Sabia se sabia que eu existia...
Apostei minha alma num jogo de cartas
Marcadas, arrisquei meu espírito
Numa roleta-russa de tambor cheio.
Você, obviamente, me fez puxar o gatilho
Me entreguei por inteiro pra você
E você não me sentiu.


Valéria Dusaki

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Rala

É um ódio ralo
Gôsto de sopa de prego
Que arranca todos os outros
Socos de percepção
É cego sem pontuação
Desgraça na escuridão
Ilusão de sangue nas mãos
Sendo doce a ilusão
Doce sêco e podre
Podre ilusão
Em profusão, confusão, gestação
Do grande grito de destruição
Por isso minha cabeça é marcada
Por isso o seu olhar é nada
Perto da sanguinolenta
Marcha daquela navalha


terça-feira, 9 de julho de 2013

Sinos e microfonias

Torrente de emoções sem sentido, LIXO
Corrente de Jesus e Maria, RITO
Como o sono de um sino vazio, LIXO
Aberrações bem à luz do dia, RITO

Ecos do fundo da caverna
Onde eu te espero, baby
Rastejando por entre a merda
Yeah, yeah, yeah, yeah, baby

Não acordei de um sono vadio, NOITE
Me deparei com meu rosto no espelho, DIA
Copo de vinho, vida por um fio, NOITE
Noite: BEIJOS; arame farpado: DIA

Quase que eu vejo o alívio
Com a sorte vi um convívio
Sem a morte, com a certeza
De vida com amor e beleza

Mas as britadeiras voltaram outra vez, NOITE
Pra atirar na cara de vocês, DIA
Até o osso eu odeio a sua luz, DIA
Fico com as microfonias contra a cruz, NOITE.


Valéria Dusaki

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Mithra Lae

A escuridão me enlouquece
Fazendo do caos, salvação
De um mundo que há tempos se esquece
Que do caos vem a criação

Do chão é que brota a semente;
Do sangue é que se tira a vida;
Não é vivo o que é dormente
Seja ou gozo ou a ferida

Lua, perfeita descrição
Do sentido da existência:
De um lado, a escuridão;
Do outro, a luz tão intensa...

Dentro do peito mora a lua
Girando ao redor da Terra
Querendo que ela seja sua
Porém a Terra não é dela...

A Terra está apaixonada pelo Sol
Que fascina com seu brilho surreal
Enquanto a Lua, apaixonada, fica só
Ficando nesse insuportável inferno astral.

Valéria Dusaki

Noite de morte eterna

Você está distante do seu melhor dia
Sem droga o bastante pra acabar a agonia
A foice, o negro, a cruz, o revólver
Essa é sua sina: corte, corte, corte

Sua felicidade só antes e depois
O agora é açoite, essa é sua noite a dois
A noite, o medo, sem luz e sem sorte
Essa é sua sina: morte, morte, morte

Vozes-sede, vozes que você não sabe
Mas que vão te jogar num labirinto
Sinto muito, de cortes sim
Vozes-correntes, sedentas por seus gritos
Ritual não se sabe se espiritual
Ou carnal, de morte, sim(...)


Valéria Dusaki

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Rosas

Toda rosa tem seus espinhos
Pise em mim e você irá senti-los
Sangrar sua pretensão em me esmagar
Seu sádico desejo de matar
Toda beleza que não te pertence
Toda beleza que ofusca seus pertences
Imaginários, frutos de uma vaidade
Tão sem motivos quanto com muito alarde
Para, assim, todos só notarem a grandeza
Dos gestos e palavras eloqüentes
E assim, encontrando a falsa certeza
De que atrás de uma beleza estéril há uma mente
Que sente, ao invés de apenas tatear
O imenso e solitário inferno de pensar
Pensando que pensa que se sente
Mas, na verdade, a continuar dormente.

Valéria Dusaki

Quebradas

É que meus pais eram muito, sei lá
Acho que quero ir pro Paraná
Aqui é um lugar bom
É que eu não gosto do som
De coisas quebrando, pessoas

O frio, massa, mas minha cabeça
Eu sei, sei, talvez eu não mereça
Estupros? Estranhos
Só tomar um banho
São coisas quebrando pessoas

Não é porque eu não queira pensar nisso
É tipo neurose, não sei, vícios
Imagens quebradas
Milhões de quebradas
Quebradas nelas pessoas

Só mais uma bola, só mais uma vez
Amanhã eu vivo, hoje me arrasto
Minhas lembranças causam problemas
Muitas ações, muitas sentenças
Tropeço nelas, tropel, janelas
Sol trancado do lado de fora
Por perguntas fora de hora

É uma confusão tão grande isso
Já não sei nem mais o que seria
Aqui é um lugar bom
Só tomar um banho
Quebradas, nelas pessoas.

Valéria Dusaki

Mais uma vez cansaço

Eu gosto da minha vida
Mas queria ter nascido um
Pássaro ou um alienígena
Humanos são tão difíceis...
Essa dor de cabeça e esse medo
Da morte incomodam
As pessoas não se respeitam
Arrombam portões e corações
Com a maior facilidade
Por mixaria sonhos vêm e vão
Em sujas noites e alvos vãos
Alvas sombras na escuridão
E a vida acaba num non-sense
Ridículo, patético e decadente.
Eu gosto da minha vida
Mas às vezes prefiro a morte
Mas sempre que vejo o corte
O medo do abismo paralisa a mente
Será que é assim que um suicida
Se sente (ou não se sente)?
"Metrópole fez cinza meu sangue".(*)

(*)Frase de Renato Russo.

Valéria Dusaki

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Múmias de Fogo

Céu e pedras amarelos
O começo de um amor sem fim
Corrida de adolescentes ébrios
Fútil e lindo mesmo assim
Coquetéis (molotov e de sangria)
Bordel de uma noite insólita
O amanhecer de um amor em agonia
Que morreu (mas não de maneira mórbida)
Um amor que não sabia amar
Mas que facilitou o aprendizado
Para um amor que consegue durar
Não em termos de nós, mas de laços
A morte que esmagou cabeças
E que mais tarde virou pó
Mas que sempre vem na lua cheia
Separar o joio do só
Que sabe que tudo no fim
Termina no fim infindável
Infindável fim: é assim
O segredo para sempre insondável
Dos momentos-múmias de fogo.


Valéria Dusaki

Eterna construção

Eu te amo um amor bom
Como alguém que constrói algo
E quer que dure pra sempre
E entre reboques, chuvas e reparos
Faz com que isso aconteça
Perfeitamente imperfeito, claro
E sapatos e cacos
Dinheiro e cantinas
Perfeições e paixões
Ódio e amor, carne e deus
Mas sempre eu e você
Quando você se preocupa
Você está sempre certa
Em todos os sentidos
Até hoje sempre fui culpa
O diabo à minha espera
E sempre saio só um pouco ferido
E aprendo que certas coisas
Devemos manter com unhas, dentes
E beijos.


Valéria Dusaki